MENOS RAZÃO EM 2007.
por Paulo da Vida Athos.
Deixo 2006 sem saudade, sem olhar para traz. Tendo diante de mim e meus sonhos o ano chegante e o futuro, lanço a ambos um olhar de esperança e de súplica.
Claro que o número de nascimentos superou o número de óbitos não só no Brasil. No mundo inteiro o mesmo aconteceu, a despeito da violência e das guerras. É a natureza em autopreservação, é a raça humana no colo da Vida.
Curioso imaginar que a única forma de vida capaz de aplicar a razão seja justamente aquela que desestabiliza a Terra colocando em risco sua existência, a do planeta e da vida nele agregada.
É realmente é estranho constatar que o homem é a única forma de vida animal capaz de matar sem ser por fome ou para se defender. Mata por ambição, por ódio, por amor, por indiferença. Mata até por matar. É intrigante essa capacidade mórbida de desamor pela vida, seja a sua ou a do outro. É frustrante buscar resposta para o porquê de o homem ter tamanho desdém pela humanidade e pelo planeta se sem ambos a ópera da vida não pode ser montada.
A grande política do homem parece ser a da destruição.
Usa mal sua razão e não usa sua humanidade.
Nesse exato momento mais de seiscentas guerras estão instaladas no mundo. Mas a inconsciência coletiva está tão doentia que talvez esse número surpreenda muitos. E é justamente nesse terreno em que se disseminam as mais intoleráveis condutas humanas.
Nada aprendemos com o genocídio de Ruanda, em 1994, dos massacres da cidade Bósnia de Srebrenica em 1995 e do uso de civis como alvos no Sudão. Nada nos ensinaram os genocídios ao longo da história humana. Até aqui, desde a Segunda Guerra Mundial, genocídios acorreram no Afeganistão, El Salvador, Uganda, Irã, Iraque (aqui também incluídos os curdos) Palestina, e mundo à fora, diante de uma humanidade anestesiada moralmente. Nesse momento a Somália está sob fogo.
No lodaçal de sangue no oriente médio o sonho americano mostra a face mais cruel dessa insensatez, com seus títeres assombrando as crianças que correm sobre os escombros e cadáveres de suas casas e de seus amigos e familiares. Mesmo palco onde em 2006 o Líbano teve suas ruas e calçadas lavadas pelo sangue de seus inocentes, crianças e velhos, homens e mulheres, já que bombas e balas não têm preferência pela presa que abate. Na chamada terra prometida reside o espanto de Deus: é muito pouca terra para tanto ódio e sangue.
No Brasil a criminalidade violenta e desorganizada semeia a morte e o pânico na população diante de uma polícia também desorganizada por falta de políticas públicas de segurança, graças a nossa incapacidade crônica de cobrar dos governantes políticas sociais. Somos um povo que não cobra. Poucos foram às ruas em 64 e nas duas décadas que se seguiram. Não mudamos. Poucos vão ás ruas, hoje, para cobrar um pouco de vergonha na cara de nossos representantes e governantes, seja por suas omissões, seja por suas ações inescrupulosas. Não mudamos. Nunca tivemos nossa “Primavera de Praga”, e já passou da hora faz tempo... Torço para que nossa indiferença moral e crônica seja sacudida em 2007.
Todas essas coisas me marcaram em 2006. Essas e muitas outras.
Mas o mais marcante para mim aconteceu em 30 de dezembro. A execução-assassinato de Saddam Hussein, o ditador genocida do Iraque. Não sou a favor dele nem gosto de ditadores, muito menos genocida como ele.
No entanto minha alma inaceita a morte anunciada, principalmente se pode ser evitada, de qualquer ser humano, de qualquer vida animal, por mais animal que tenha sido o ser humano ou por mais humano que tenha sido o animal. Não comungo com ditadores por serem assassinos vez que não comungo com assassinatos.
Concebo até que a vingança pessoal possa levar o homem a matar. Conheço a força das emoções humanas e não as desprezo. Mas matar por hora certa? Matar quando se pode manter preso por todo o resto da vida, o que já é uma morte, mas não faz do julgador um homicida nem do carcereiro um carrasco, é apenas mais um assassinato.
Para mim 206 teve nesse ato seu ato mais grave e final. Um homem de mãos atadas, que dispensou o capuz dos condenados, que, encarando a morte de frente e amaldiçoando seus assassinos, foi enforcado quase que ao vivo em razão da força na internete.
Isso não é racional, embora humano. Faz parte do eu-humano sem caridade.
Esse é meu desejo em 2007: menos razão... e mais humanidade.
Fonte
por Paulo da Vida Athos.
Deixo 2006 sem saudade, sem olhar para traz. Tendo diante de mim e meus sonhos o ano chegante e o futuro, lanço a ambos um olhar de esperança e de súplica.
Claro que o número de nascimentos superou o número de óbitos não só no Brasil. No mundo inteiro o mesmo aconteceu, a despeito da violência e das guerras. É a natureza em autopreservação, é a raça humana no colo da Vida.
Curioso imaginar que a única forma de vida capaz de aplicar a razão seja justamente aquela que desestabiliza a Terra colocando em risco sua existência, a do planeta e da vida nele agregada.
É realmente é estranho constatar que o homem é a única forma de vida animal capaz de matar sem ser por fome ou para se defender. Mata por ambição, por ódio, por amor, por indiferença. Mata até por matar. É intrigante essa capacidade mórbida de desamor pela vida, seja a sua ou a do outro. É frustrante buscar resposta para o porquê de o homem ter tamanho desdém pela humanidade e pelo planeta se sem ambos a ópera da vida não pode ser montada.
A grande política do homem parece ser a da destruição.
Usa mal sua razão e não usa sua humanidade.
Nesse exato momento mais de seiscentas guerras estão instaladas no mundo. Mas a inconsciência coletiva está tão doentia que talvez esse número surpreenda muitos. E é justamente nesse terreno em que se disseminam as mais intoleráveis condutas humanas.
Nada aprendemos com o genocídio de Ruanda, em 1994, dos massacres da cidade Bósnia de Srebrenica em 1995 e do uso de civis como alvos no Sudão. Nada nos ensinaram os genocídios ao longo da história humana. Até aqui, desde a Segunda Guerra Mundial, genocídios acorreram no Afeganistão, El Salvador, Uganda, Irã, Iraque (aqui também incluídos os curdos) Palestina, e mundo à fora, diante de uma humanidade anestesiada moralmente. Nesse momento a Somália está sob fogo.
No lodaçal de sangue no oriente médio o sonho americano mostra a face mais cruel dessa insensatez, com seus títeres assombrando as crianças que correm sobre os escombros e cadáveres de suas casas e de seus amigos e familiares. Mesmo palco onde em 2006 o Líbano teve suas ruas e calçadas lavadas pelo sangue de seus inocentes, crianças e velhos, homens e mulheres, já que bombas e balas não têm preferência pela presa que abate. Na chamada terra prometida reside o espanto de Deus: é muito pouca terra para tanto ódio e sangue.
No Brasil a criminalidade violenta e desorganizada semeia a morte e o pânico na população diante de uma polícia também desorganizada por falta de políticas públicas de segurança, graças a nossa incapacidade crônica de cobrar dos governantes políticas sociais. Somos um povo que não cobra. Poucos foram às ruas em 64 e nas duas décadas que se seguiram. Não mudamos. Poucos vão ás ruas, hoje, para cobrar um pouco de vergonha na cara de nossos representantes e governantes, seja por suas omissões, seja por suas ações inescrupulosas. Não mudamos. Nunca tivemos nossa “Primavera de Praga”, e já passou da hora faz tempo... Torço para que nossa indiferença moral e crônica seja sacudida em 2007.
Todas essas coisas me marcaram em 2006. Essas e muitas outras.
Mas o mais marcante para mim aconteceu em 30 de dezembro. A execução-assassinato de Saddam Hussein, o ditador genocida do Iraque. Não sou a favor dele nem gosto de ditadores, muito menos genocida como ele.
No entanto minha alma inaceita a morte anunciada, principalmente se pode ser evitada, de qualquer ser humano, de qualquer vida animal, por mais animal que tenha sido o ser humano ou por mais humano que tenha sido o animal. Não comungo com ditadores por serem assassinos vez que não comungo com assassinatos.
Concebo até que a vingança pessoal possa levar o homem a matar. Conheço a força das emoções humanas e não as desprezo. Mas matar por hora certa? Matar quando se pode manter preso por todo o resto da vida, o que já é uma morte, mas não faz do julgador um homicida nem do carcereiro um carrasco, é apenas mais um assassinato.
Para mim 206 teve nesse ato seu ato mais grave e final. Um homem de mãos atadas, que dispensou o capuz dos condenados, que, encarando a morte de frente e amaldiçoando seus assassinos, foi enforcado quase que ao vivo em razão da força na internete.
Isso não é racional, embora humano. Faz parte do eu-humano sem caridade.
Esse é meu desejo em 2007: menos razão... e mais humanidade.
Fonte
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