sábado, janeiro 03, 2015

É Natal

É  Natal.

Mesmo que não quisesse, é Natal.  Tudo me mostra isso.  Ligo a TV e logo as propagandas me dizem que é Natal.  Nas ruas, nas árvores iluminadas, na fachada dos shoppings e das casas, o piscar de milhares de lâmpadas me dizem que é Natal.

De resto, não vejo grandes diferenças.  As pessoas andam estressadas, o trânsito cada vez mais engarrafado, o som urbano invade tudo com seu concerto de buzinas, sirenes, conversas e megafones, a única coisa que parece mudar é que tudo se acelera um pouco mais nessa época, que tem mais gente nas ruas e menos mendigos nas calçadas.

Claro que não me iludo quanto à redução de mendigos. 

É praxe dos governos expulsarem seus mendigos, sua população de rua, esse tipo de gente que atira na nossa cara o despudor de nossa indiferença diuturna durante o restante do ano. 

A cidade precisa estar limpa para receber o espírito do Natal e os turistas e esses espíritos de porco não vão sujar nossa paisagem.

Então é Natal.  Não tem como não ser. 

Tanto brilho nas ruas, tantas luzes a iluminar nossas noites, milhões delas se somam àquelas que conhecemos dos outros dias, é lindo de se ver!  Então aquela árvore na Lagoa, hein?  Belezura!  Todo mundo em volta, todas as noites, uma festa! 

Shoppings cheios, restaurantes lotados, ruas repletas de caros e calçadas também, mostrando como estamos bem de vida, que a noite é nossa, que somos bárbaros! 

Verdade.  Tudo isso, é verdade.  Principalmente isso: somos bárbaros...

Sabemos da covardia praticada contra os moradores de rua, não apenas contra os mendigos, para desestimular sua presença. 

São retirados na marra, a força, na porrada, são jogados em ônibus cedidos pelos quadrilheiros que nos roubam diariamente em suas roletas, e largados bem longe, até em outras unidades federativas, ou, na versão econômica, pressionam para que essa gente que com sua existência sujam os bairros da zona sul e da orla procurem bairros em que turistas jamais passarão.  Não podem poluir nossa paisagem.

Isso tudo é e sempre foi, Natal.

Claro, a TV mostra a missa do galo, a conversa fiada de nossos governantes, o caô de nossos religiosos, o programa do Roberto Carlos, o papai noel do shopping,  a ceia dos famosos, o amigo oculto dos artistas, essas coisas que nos provam todo ano que finalmente chegou o Natal.

Mostrar o amigo oculto é mole, quero ver é mostrar o inimigo oculto. 

Mostrar que 90% do policiamento está a serviço dos hotéis e do turismo, nas zonas nobres da cidade, que nosso subúrbio e regiões mais pobres ficam ao abandono, os roubos, chacinas e vítimas inocentes da guerra aos pobres que nos enganam chamando de guerra ao tráfico.

Quero ver é mostrar o movimento em nossos hospitais, o abandono da periferia, a covardia que fazem com nossas crianças nas prisões que criamos para elas em razão de nossa incapacidade crônica de exigir dos governantes que as crianças pobres exerçam o direito a educação, à saúde e à moradia, escritas na Constituição da República.

Quero ver é essa gente cristã de araque que grita a favor da redução da menoridade penal mostrar a cara no horário da missa do galo para falar dos ensinamentos de Jesus.    

Sabe aquela frase “deixai vir a mim as criancinhas?”, essa gente cristã mudou o nome do SAM para FUNABEM e FEBEM, depois para FUNDAÇÃO CASA, imbuídos pela prática de sua religiosidade. 

Ou seja: a tal frase acima eles colocaram em prática mandando nossas crianças para o inferno.

Mas isso eles não mostram.  Não porque seja Natal.  Não mostram nem assumem que apoiam, não é por vergonha também. 

É por insensibilidade mesmo, por desumanidade, porque não aprenderam o mais simples dos ensinamentos, que é amar.

Rio, 23/12/2014.


Paulo da Vida Athos

Volver à esquerda

Volver à esquerda.

Dificilmente a mídia será regulada no Brasil. Os mais progressistas sabem da importância que isso tem.  Temos uma mídia que cumpre o papel de preservar o status quo que coloca de um lado aqueles 10 por cento mais ricos da população brasileira detêm mais de 75 por cento da riqueza do país, e de outro os 90 por cento que vivem com apenas 25 por cento que sobra dessa conta.

Não é de se estranhar que qualquer movimento político que vise diminuir esse abismo sofra imediatamente um linchamento midiático.  É uma ideologia. A ideologia de dividir para enfraquecer.

O povo foi e é o alvo primário, e, se fragilizado pela ausência de liderança firme e coesa, vira mesmo massa de manobra.  Como uma boiada em estouro.  Dividiram sim, e facilmente.

E essa estratégia, antes, minara o próprio PT a começar pela CNB que foi atropelada por não perceber que o princípio estava em andamento.

O PT começou a ruir, por dentro.  Não resistiu por esfacelamento.  A coesão deveria se formar tão logo os ataques criaram o que passaram a chamar de “mensalão” e continuou, e continua, com o que chamam de “petrolão", e não houve, como não há, como não houve, contenção para enfrentamento dialético capaz de demonstrar cabalmente que o discurso da corrupção era vazio em razão do próprio combate que a colocou visível.

A mídia da elite venceu ou foi a desunião de todos os partidos progressistas que forjou a derrota?

Os mais fundamentalistas, tal como os que sofrem de ligeireza de espírito, dirão: -“Mas, que derrota se vencemos as eleições?!!!

Sabe de nada, inocente...

É ingenuidade, portanto, imaginar que voluntariamente a mídia vá cumprir o papel que deveria, de informar.  Para isso as concessões públicas são – ou deveriam ser – direcionadas.

Da mesma forma é ingenuidade pensar que o Congresso Nacional vá votar, para regular a mídia.

Quando se fala em financiamento público de campanha substituindo o atual sistema de financiamento que é público-privado, é para impedir que aqueles dez por cento continue elegendo, através do financiamento privado, os políticos que irão votar justamente em questões que envolve diretamente os interesses dessa minoria bilionária.

Compram o Congresso Nacional, elegendo com o financiamento privado os deputados federais e senadores que votarão contra a regulação da mídia, e contra a reforma política que poderia mudar isso implantando o financiamento apenas público, e contra a taxação das grandes fortunas que impediria o saque aos direitos dos trabalhadores como ocorreu agora com as alterações feitas na CLT e no sistema previdenciário.

Espero pelo menos que o governo do PT cumpra as promessas de investimento maciço na educação, a democratização da internete – única forma de fornecer à população informação efetiva – sem descontinuar os demais programas sociais e de investimento que vinham tocando.

Por outro lado, os partidos efetivamente de esquerda, os sindicatos dos trabalhadores e movimentos sociais, precisam participar de forma mais eficaz e coesa na oposição aos atos de governo que firam ou diminuam direitos do povo e dos trabalhadores, e apoiar de forma também efetiva os projetos que visem justamente à área social como um todo.

Sem trazer para o campo das decisões o Partido da Causa Operária (PCO), a Unidade Vermelha, algumas correntes do PSOL, como a Insurgência, ou do PT como os Movimentos Populares, a Articulação de Esquerda e a Militância Socialista, o Partido Comunista Revolucionário (PCR), o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), a Corrente Socialista dos Trabalhadores (CST), o Movimento Esquerda Socialista (MES) e a Liberdade, Socialismo e Revolução (LSR), que ficaram alijados nesses 12 anos, que guardam muito do que o PT foi em suas raízes, vai ser difícil não entregar para a direita o poder em 2018.  Mesmo com Lula.

Tem que gastar sola e alma.

Esse exercício não se faz em gabinetes, mas em reuniões, em grupos de discussões, em seminários, em comícios, nas ruas e faculdades, nas praças e no chão das fábricas, nos trens e nas estações, nas escolas e universidades, nos guetos e nas esquinas, nas rádios comunitárias e nas redes, esclarecendo e motivando a grande massa popular das periferias e das comunidades, porque o povo está é nas ruas, não nos salões e galerias.


Foi isso que, governando e governado, o PT esqueceu de fazer.


Paulo da Vida Athos

sexta-feira, janeiro 02, 2015

Final de parceria

Final de parceria.

Tivemos vitórias inesquecíveis: greve, diretas já, chegamos juntos e estamos no governo há mais de 12 anos. Foi bom enquanto durou. Mas agora, assim como uma história bonita de amor, chegamos ao fim. Não me abalo, o que não pode morrer são meus sonhos e minha capacidade de sonhar e lutar para que se tornem realidade. Minha vida tem sido assim e vai continuar assim.

Em seu discurso de posse a Presidenta Dilma afirmou que não tocaria nos direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores. Muito bem. Mas quando 2014 se despedia do céu do tempo, vi que: 1) o período para o trabalhador poder pedir o seguro-desemprego pela primeira vez triplicou - de 6 para 18 meses; “carência” de 24 meses de contribuição do segurado para que o dependente obtenha os recursos - hoje basta que o trabalhador esteja contribuindo; uma nova regra de cálculo reduz o benefício que a família do trabalhador receberia, de "100% do salário de benefício para 50% mais 10% por dependente até o limite de 100%; fico por aqui. Isso basta para fazer a seguinte pergunta: isso é ou não é contra o trabalhador? 

Não me arrependo por ter lutado essas décadas ao lado do PT. Não me arrependo de ter lutado para que o PSDB, através de Aécio, chegasse ao governo, seria pior, muito pior, com a vitória da direita mais de extrema. Da mesma forma como não me arrependo, nesse momento, de me afastar politicamente do PT.

Conquistamos muito, nesse período curto.  Mas do que foi conquistado no passado inteiro da história do povo brasileiro, para o povo brasileiro.  Mas se aceito hoje que retirem um pedaço do conquistado ao longo da história, que moral terei amanhã para falar se resolverem tirar o todo?

Politicamente, procurarei novos companheiros, sempre mais à esquerda.

Não posso tolerar que direitos de trabalhadores sejam violados, sem me opor.

Continuarei sendo, a partir de agora, o que sempre fui: radical opositor aos que violenta, direitos do povo, dentre os quais aqueles conquistados pela massa trabalhadora. Não serei oposição estúpida, meu não tem razões claras, e, assim sendo, não posso continuar minha marcha ombro a ombro com o PT.

Meu caminho é a esquerda, o caminho do povo e dos trabalhadores também.

É lá no horizonte à esquerda é onde vivem meus sonhos, e não abro mão deles nem de sonhar.

E esses caminhos não se misturam com violências aos direitos que conquistamos com muita luta, suor e dor.

Agradeço aos companheiros de trincheira com quem dividi meus sonhos nas últimas três décadas e pouco. Permanecerão com meu carinho, amizade e respeito.

Mas na dúvida, sigo à esquerda...

Paulo da Vida Athos.

It was not an act of war in Lebanon

It was not an act of war in Lebanon. It was not an act of war, it was a terrorist act, a terrorist action that Israel carried out against Le...