O ano finda e se desfaz no céu
do tempo.
Vai e leva consigo todas as
desesperanças que reinam sobre a terra, as dores que se abrigam no coração das
gentes; a fome que ceifa vidas que mal começaram; as guerras e suas
inexplicalidades; a intolerância que elimina não as diferenças, mas os
diferentes; o desejo de posse que assassina.
Que venha não apenas um ano
novo; que venha diferente:
- um ano em que balas perdidas não encontrem no espaço a vida
de ninguém; aliás, que elas sequer existam;
- que o homem ame sua
humanidade, e que queira mais ser do que ter, mais sorrir que ferir, mais amar
que fazer chorar;
- um ano sem guerras, onde
imagens dilaceradas de crianças palestinas, sírias ou libanesas, criança
qualquer de qualquer lugar da terra, invada nossas salas, no jornal televisivo
do horário nobre, apontando nossa pequenez;
- um novo ano em que os
jovens, ricos ou pobres, negros ou brancos, vermelhos ou amarelos, possam andar
pelas ruas de nossas cidades, sem medo, estampando na cara o sorriso que emana
da juventude; um ano em que nossos jovens não sejam punidos por serem pobres ou
negros;
- um novo ano com tolerância
para com a diversidade, em que o ser humano tenha liberdade para amar,
independente de gênero, para amar sem medo, e caminhar pelas calçadas, pelas
praças e pelas praias das cidades, de mãos dadas, cantando um canto de amor e
escrevendo na terra uma nova história;
- um novo ano em que nós, os
invasores, passemos a respeitar os donos da terra, esses que temos estuprado,
escravizado, violentado, queimado ou alagado suas casas, e destruído sua
história;
- um novo ano em que os Arara,
Araweté, Ashaninka, Asurini, Bororo, Enawenê Nauê, Guarani, Juruna, Yudja, Kaapor, Kayapó, Kalapalo, Karajá, Kaxinawá,
Krahô, Mayoruna, Marubo, Matis, Matipu, Mehinako, Rikbaktsa, Suruí, Tembé,
Ticuna, Tiriyó, Waiana Apalaí, Waurá, Wai Wai, Waiãpi, Ye'kuana, não tenham o
mesmo destino de extinção que tiveram os Aimoré, Botocudo, Caeté, Canindé,
Genipapo, Carijó, Cariri, Caratiú, Icó, Panati, Charrua, Omágua, Potiguar,
Tamoio, Tucujú, Tupinambá e Tupiniquim,
ao longo desses cinco séculos de lento contínuo genocídio;
- um novo ano em que
lutássemos por eles; somos todos responsáveis.
Afinal, para que a energia acenda a luz em nossas casas, temos aceitado
essa prática genocida como se não tivéssemos nada com isso. Temos sim.
Muito! Aliás, temos tudo, e,
pior, temos usado da confortável capa do cinismo para manutenção de nosso
conivente silêncio, de nossa visceral omissão.
- um ano em que iremos para as
ruas! Temos que ir para as ruas! Não
apenas porque um presidente deixou de agradar a mídia e aos poderosos, como foi
o caso de Collor; não apenas para protestar contra a comemoração em que os
assassinos golpistas de 64 acintosamente propagavam cantos àquele período de
tortura e morte; temos que ir para as ruas pela liberdade, pela igualdade e
pela Vida;
- um ano em que se coloque um
fim a guerra às drogas, que apenas tem matado nossos jovens;
- um ano em que nossos juízes
sejam Magistrados e não atores, que não façam do STF um palco midiático, que
não desonrem a história da magistratura nacional.
Temos que ir para as ruas,
sempre que:
- a vida de uma criança
indígena estiver em risco;
- uma bala perdida mate um
inocente;
- um jovem for assassinado nas
periferias;
- um ser humano morrer por
falta de atendimento médico;
- não houver vagas nas escolas
para todas as nossa crianças e jovens;
- alguém for levado à força
para uma internação compulsória porque está exercendo o mesmo direito do outro
que bebe uma cerveja ou fuma um cigarro na rua;
- a mídia golpista sabotar as
conquistas populares ou criminalizar movimentos sociais;
- soubermos que empresários se
unirem a políticos em nome da corrupção e não forem levados a julgamento;
- algum poder ou instituição
da República, mancomunado ou não com o golpismo midiático, coloque em risco a
Democracia.
Quero um ano em que primemos
por dois conceitos fundamentais: igualdade e justiça social.
Quero um ano em que, ao seu
final, possamos todos dizer: “-Como foi feliz
o ano que passou!”
Então, que seja assim!
Feliz 2013 para todos!