Unidade de Polícia Pacificadora, UPP, um facho de luz em 2009. A Vida e o Rio agradecem
Um facho de luz em 2009, para 2010... 11... 12... 13...
O ano de 2009 vai se esvaindo no céu do tempo, é seu ocaso. Não sinto muito orgulho da história que escrevemos nele. A humanidade tem muito pouco para sentir orgulho do legado que a 2009 emprestamos. Sim, nós o fizemos. Nós escrevemos a história que nele inserimos, na página de cada dia, compondo coletivamente os títulos e subtítulos, as semanas e os meses, de mais um tomo da história que nós, independente de credo e de raça, quer por ação, quer por omissão, escrevemos juntos.
Fica muito fácil culpar o ano que finda, que não pode se defender, por todas as culpas do homem. Mas o ano nada faz que obedecer a marcha do tempo, com todas as suas estações, desde o tempo em que não nos preocupávamos com a camada de ozônio e Copenhagen era, na minha infância, sinônimo do melhor chocolate que existia. Essa marcha é marcada ora pelo homem através de sua atuação no mundo exterior, no ambiente em que vive, alterando-o ora para melhor ora para pior; ou pela própria natureza ora em seu curso normal, ora rebelando-se contra a ação do homem. O resutado dessa atuação humana que repercute na vida do planeta e de cada um de nós, chama-se fato.
Para muitos o fato mais marcante de 2009 foi a morte de Michael Jackson. Foi realmente marcante. Ele era especial. Com sua música e sua dança fez do mundo um grande palco e, da vida, um show que durou toda sua existência, entre sombras e luzes, fumaça de gelo-seco e megawatts, entre drogas e sonhos, até que de um desses últimos não conseguiu despertar.
Muitos outros fatos dividem a opinião de todos: a nova gripe H1N1, as enchentes no Brasil, a tragédia com o 447 da Air France, o indizível Prêmio Nobel da Paz para Barack Obama, o tsunami na Oceania, o Rio eleito sede das Olimpíadas 2016, a crise econômica mundial, o helicóptero da polícia abatido no Rio, a revelação de que a polícia do Rio de Janeiro é a que mais mata do mundo, ou que as balas perdidas são o pesadelo maior do carioca.
Esse negócio da bala perdida e realmente terrível. Pior: corriqueiro. Tanto que a rotina colocou seus registros quase que no roda-pé dos noticiários... e isso quando são mencionados. Lembro bem como começou a ceifar vidas em 2009. Muitos nem se lembram que foi justamente no Réveillon passado que Irani Pereira da Silva foi atingida na cabeça, dentro de casa, em Costa Barros, um subúrbio do Rio, perdendo a vida. Aliás, só na festa da virada na Praia de Copacabana foram registrados cinco feridos no início de 2009.
Quanto a violência policial, dados do ISP indicaram que nos últimos 10 anos foram mais de 10 mil mortes cometidas pela polícia, com um aumento nos últimos anos durante a chamada "política de enfrentamento" do atual governo estadual.
Comumente a parte mais influente da sociedade vocifera que não basta mais pena: "o negócio é a pena de morte!", brada ensandecida pela comoção de alguma violência fora do “normal”, como se houvesse menor ou maior repúdio ou hediondez de um homicídio para outro. A dor e a lágrima de uma mãe que perde um filho, é igual, independente da arma que disparou a bala, independente da idade ou da posição social.
Recordo de um participante de reality show ter afirmado, tempos atrás, que as pessoas que estavam aqui fora não imaginavam “o quanto era difícil permanecer cinco semanas confinados naquele espaço”. Na mesma hora pensei no Presídio Central em Porto Alegre que tem capacidade para abrigar 1,7 mil presos e, atualmente, de acordo com dados da Secretaria estadual de Segurança Pública gaúcha, abriga cerca de 5 mil. Aliás, Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Sistema Carcerário o colocou como o pior presídio do Brasil. Nesse ranking figuram: em segundo lugar, a Colônia Agrícola de Campo Grande (MS); e em terceiro, o Distrito de Contagem (MG), a Delegacia de Valparaíso (GO), a 52ª Delegacia de Polícia em Nova Iguaçu (RJ) e a 53ª Delegacia de Polícia de Caxias (RJ).
Enquanto isso, políticos do senado tupiniquim querem mais pena para o crime organizado e crimes contra a honra (deles, por certo), como se não bastasse as que já temos. Nossos legisladores não tem a menor idéia de que pena não ressocializa, que o crime é subproduto da desigualdade social e que desigualdade social não se reduz com prisão. Na verdade, criminaliza a pobreza.
Ao longo de anos vimos denunciado essa prática de invasões e caveirões em nossos guetos e favelas, incentivadas pela histeria ou pelo silêncio cínico e conivente da classe média e alta da burguesia carioca. A morte de crianças e inocentes é mero efeito colateral. As mortes em confronto, na média de mil por ano, são necessárias.
Aliás, tudo muito de acordo com o mesmo cinismo contido na concessão do Prêmio Nobel da Paz para Barack Obama: “vamos fazer a paz através da guerra!” O mesmo que acender a luz para ver o escuro...
E assim, entre mortos e feridos mundo à fora, fruto da incapacidade crônica que os governantes têm para gerir seus países, estados ou municípios, independente do sistema político ou de força, das ditaduras ou democracias e de todos os “ismos” existentes entre ambas, a desigualdade social é cada vez maior no Brasil e no mundo.
A desigualdade social é, em última instância, o agente multiplicador de quase toda violência na terra. Excetuo aquela violência que nasce da intolerância religiosa que por aqui, ainda, não existe. Afinal, Deus é brasileiro...
Mas surge em 2009, um facho de luz...
Esse era o reclamo maior de minha alma peregrina: um facho de luz sobre a insanidade da política de segurança pública carioca. E ele se fez luz onde existia o caos. Falo da política de segurança chamada de UPP, ou Unidade de Polícia Pacificadora, implantada por sua excelência o governador do Estado do Rio de Janeiro, Sergio Cabral.
Touché, monsieur Cabral!
Quando, em 19 de dezembro de 2008 era inaugurada na Favela Santa Marta, zona sul do Rio, a primeira UPP, olhei com certa descrença. Vai durar pouco, pensei. Afinal, nada que prestava para as comunidades mais carentes tinha continuidade.
Hoje, um ano depois, lá, temos a realidade assombrosa de nem um homicídio registrado e não apenas: não houve nem um tiroteio. Mudou a vida de toda a comunidade e de todos os que vivem nela: para melhor, muito melhor! Não há mais traficantes armados, não há mais o dono do morro. As melhorias foram em todos os aspectos. Agora os serviços públicos, tais como temos no asfalto, estão presentes na comunidade. Mais até, inclusive com rede wi fi banda larga grátis para a comunidade.
Porém, o mais importante é que lá, agora, todos tem um lar, uma residência, um título de propriedade, um lugar que sabem que podem levar suas visitas e amigos, sem vergonha ou medo, e com uma das paisagens mais belas da cidade.
As UPPs já existem no Morro Santa Marta, em Botafogo, no Chapéu Mangueira/Babilônia, no Leme, na Zona Sul, na Favela do Batan, em Realengo e Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na Zona Oeste. Essa semana mais duas, Tabajaras e Morro dos Cabritos (Copacabana e Botafogo), foram ocupadas sem um tiro!
Ou seja, sem a famosa prática antiga da invasão. E os policiais foram bem recebidos pela comunidade. Ou seja, não é uma promessa de campanha, não é um sonho.
Com isso sua excelência evitou, minimamente, nos últimos 12 meses, a morte de centenas de nossos jovens e muitos policiais. Só isso bastaria para que eu considerasse o melhor governo que o Rio de Janeiro já teve. É uma realidade tangível que está sendo executada de forma inteligente, como sempre preguei e desejei.
Pode melhorar? Sim, sempre pode. Mas, especificamente nessa área, basta usar menos os caveirões e as invasões, ou não usar, e, no lugar de ambos, usarmos a inteligência como meio de ocupação, como se fez na implantação das UPPs e Tabajaras foi o maior exemplo!
Sua excelência está no caminho certo: polícia se faz com inteligência, não com cadáveres.
A UPP foi o fato mais relevante para mim, junto com a eleição de Lula, depois da queda do regime militar.
Feliz 2010, senhor Governador!
O Rio e a Vida agradecem.
Paulo da Vida Athos.
Rio, 29 de dezembro de 2009.
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