Para um cachorro muito amado.
Você tem sido grandioso em nossas vidas, e sempre teve as qualidades do deus grego de quem roubamos o nome para chamarmos de seu, Apolo.
Assim como ele, você tem a beleza e a luz, e creio que a Vida só escolheria um melhor momento para sua chegada, se esse momento fosse antes de nós, antes dos homens, num tempo que era a Era dos bichos, quando então você teria todos os campos e matas, e a sua liberdade inteira a nortear seus caminhos, e certamente sua prole seria imensa!, você tem porte de rei e viveria como um rei a comandar sua matilha.
Mas, não quis assim a Vida que escolheu esse tempo e, para alegria de todos nós, nossa casa, para que você vivesse sua vida, inteirinha!
E nesse tempo, cara, suas quatro patas marcaram quase todos os cantinhos de nossa casa, já que era um de nós, além de nossos corações.
Ah!, sim, havia apenas um local proibido: a minha cama.
Mas que diferença isso faz ou fazia, se você tinha e tem todas as outras camas e também todos os sofás, e isso sem falar no chão – uma imensa cama nos dias mais calorentos – que era todinho seu!
Sempre fui o ultimo da lista de suas preferências entre todos da casa e gostava disso, isso me tornava o último quartel nas suas solidões (você sempre foi muito social, ao contrário de mim), quando todos se ausentavam por uma mesma razão ou por motivos diversos.
Eu só ficava puto da vida quando mijava na casa quando ficava sozinho em noites frias e chuvosas (mas você sabe que eu tinha razão, você sempre teve coragem pra cachorro, pra quê aquilo?); no entanto, entendia quando acontecia porque deixavam trancada a porta da cozinha; por mais inteligente que fosse, impossível esperar que soubesse usar a chave da porta, essa tarefa era para quem tinha mãos, embora sem tanta inteligência quanto você.
Agora você está muito doente e faz de nossa tristeza um fardo que se arrasta pelo chão, e fica tudo muito difícil.
Difícil pensar em nossa casa sem a presença de seus latidos fortes e sem a grandeza do amor de seu coração por nós, de sua fidelidade absoluta, da segurança que nos transmitia e transmite, a todos.
Difícil não imaginar seu porte garboso e suas paradas de cão de caça, nas quais ficava imóvel como uma estátua grega, na qual apenas os olhos tinham movimento, acompanhando os pardais que, temerariamente, ousavam invadir seu espaço para furtar migalhas de sua ração ou de pão, geralmente nas manhãs ou nas tardes em que, com o sol, entravam em nossa casa.
Difícil não pensar em seus olhos acesos no escuro, no fundo do corredor, perto da porta do quarto de Ju, onde você se deitava para esperar aquela que seu coração valente escolheu como a “dona”.
Pareciam dois faróis em meio à escuridão.
Principalmente depois que você juntava num canto do quarto todas as coisas que ela largava espalhada pela casa quando saía: peças de roupa, a camiseta que estava usando, a camisola abandonada, estojo, fazendo com tudo um ninho onde você se colocava em espera paciente.
Teve um dia até que pegou o Iphone que ela havia deixado na mesa da sala e, quando percebi, estava com ele atravessado em sua boca, como fosse uma gaita!, atravessando da sala, onde o pegara em cima da mesa, em direção ao quarto dela.
E ái daqueles que tentassem tirar você do quarto dela, em sua ausência!
Você já recebia o intruso com seu rosnado baixo e, ao mesmo tempo, decisivo: “- Fora, tudo aqui me pertence e você não passa de um intruso!”.
Todos evitavam esse encontro, até minha mulher (que era a única para quem ele não latia quando chegava da rua, para ela fazia festas sem latidos, sabia que ela não gostava de algazarra na chegada...). As pessoas que trabalhava aqui, nem pensar! Não entravam no quarto na ausência de Ju. Simples assim.
Nesses casos extremos eu era chamado, afinal tive que assumir o papel de chefe da matilha antes que você crescesse – tinha lido um livro a respeito – e o desagradável aqui, eu, chegava com o meu –“Sai!!”, que era obedecido em parte, já que nunca você saiu sem levar na boca uma daquelas peças da Ju que tinha juntado por ela, como quem em rebeldia afirmasse que saia, porém com protesto.
Belo e, como todo weimaraner, era aparentemente perigoso num primeiro olhar. Sim, para os estranhos você era uma fera até o primeiro afago. Só.
Após esse primeiro afago, sociável como ninguém, aquela pessoa passava a ser parte de seu mundo, de nosso mundo, e quantas crianças pequenas que você nunca tinha visto sentava em você, dava porrada, e isso nunca nos preocupou. Afinal, Ju e Pe nunca deixaram, graças a Deus, de ser crianças, e você chegou no auge da criancice deles, tipo 13, 14 anos, fazendo com que você visse em toda criança um amigo (Lucas foi o primeiro e maior exemplo).
Seu pelo, num cinza fantasticamente belo, e um olhar de indefinível verde acinzentado, e com seu porte elegante e nobre, nas poucas vezes em que foi à rua – sim, foram poucas se comparadas ao tempo em que vive – faziam com que muitos quisessem lhe fazer um carinho, depois de perguntar se você era “bravo”, e de todos pelo menos roubava um olhar ou um sorriso.
Você conhecia seu charme...
Se alguém estava triste, você sentia e compartilhava e, muitas vezes, creio que você até confortou.
Certamente vão me chamar de doido, mas sei que um dia você falou, em bom português, a palavra “-Não”. Claro, ninguém vai acreditar - salvo engano de memória só eu e Luce ouvimos sua manifestação - , e foi um “não” muitíssimo bem colocado para o momento, e claríssimamente bem pronunciado para não ser colocada em dúvida sua manifestação. Sei que se pudesse sorriria com essa minha inconfidência, rsrsrsrs...
Pe era o segundo colocado na lista de seu coração e era com quem você dividia a cama nas noites prenhes da ausência de Ju, já que você as considerava insuportáveis.
Daí seu mau humor, que fazia questão de demonstrar através de um aparente descaso, quando ela se arrumava e colocava aquele perfume irritante tipo só volto amanhã de manhã.
Era o quanto bastava. Nem adiantava ela querer agradar.
Você simplesmente olhava para o lado oposto quando ela tentava aquela brincadeira sem graça ou simplesmente nem olhava.
Dava uma de surdo e autista, num claro: “- Quer ir? vá,!, dane-se, mas não me enche o saco que não preciso de você”.
Vi isso alguma vezes. Ri muito com seus humores, cara.
Agora você pendura nossos corações num varal. Tentamos enxugar as lágrimas, mas são lágrimas teimosas.
Qualquer coisinha é um sobressalto. Se sua respiração muda de ritmo, se seu olhar está mais triste, se não encontra uma posição mais confortável, tudo é motivo para apertar nosso coração.
Lembro que tive minha Escolha de Sofia em que você foi a parte beneficiada. Não me arrependi.
Afinal pode viver sua vida inteira com a dignidade que merece, como um de nós que se tornou, o que jamais poderia com a presença de Netuno.
Se algo há se pagar por isso, tudo certo, estou pronto!
Valeu para você ser um cão feliz, porque assim pode nos dar tanta felicidade...
Um beijo de todos nós, grande Apolo, meu insubstituível focinhudo.
Ps. Infelizmente Apolo morreu hoje, 10/05/2009, à 20:00h.
Você tem sido grandioso em nossas vidas, e sempre teve as qualidades do deus grego de quem roubamos o nome para chamarmos de seu, Apolo.
Assim como ele, você tem a beleza e a luz, e creio que a Vida só escolheria um melhor momento para sua chegada, se esse momento fosse antes de nós, antes dos homens, num tempo que era a Era dos bichos, quando então você teria todos os campos e matas, e a sua liberdade inteira a nortear seus caminhos, e certamente sua prole seria imensa!, você tem porte de rei e viveria como um rei a comandar sua matilha.
Mas, não quis assim a Vida que escolheu esse tempo e, para alegria de todos nós, nossa casa, para que você vivesse sua vida, inteirinha!
E nesse tempo, cara, suas quatro patas marcaram quase todos os cantinhos de nossa casa, já que era um de nós, além de nossos corações.
Ah!, sim, havia apenas um local proibido: a minha cama.
Mas que diferença isso faz ou fazia, se você tinha e tem todas as outras camas e também todos os sofás, e isso sem falar no chão – uma imensa cama nos dias mais calorentos – que era todinho seu!
Sempre fui o ultimo da lista de suas preferências entre todos da casa e gostava disso, isso me tornava o último quartel nas suas solidões (você sempre foi muito social, ao contrário de mim), quando todos se ausentavam por uma mesma razão ou por motivos diversos.
Eu só ficava puto da vida quando mijava na casa quando ficava sozinho em noites frias e chuvosas (mas você sabe que eu tinha razão, você sempre teve coragem pra cachorro, pra quê aquilo?); no entanto, entendia quando acontecia porque deixavam trancada a porta da cozinha; por mais inteligente que fosse, impossível esperar que soubesse usar a chave da porta, essa tarefa era para quem tinha mãos, embora sem tanta inteligência quanto você.
Agora você está muito doente e faz de nossa tristeza um fardo que se arrasta pelo chão, e fica tudo muito difícil.
Difícil pensar em nossa casa sem a presença de seus latidos fortes e sem a grandeza do amor de seu coração por nós, de sua fidelidade absoluta, da segurança que nos transmitia e transmite, a todos.
Difícil não imaginar seu porte garboso e suas paradas de cão de caça, nas quais ficava imóvel como uma estátua grega, na qual apenas os olhos tinham movimento, acompanhando os pardais que, temerariamente, ousavam invadir seu espaço para furtar migalhas de sua ração ou de pão, geralmente nas manhãs ou nas tardes em que, com o sol, entravam em nossa casa.
Difícil não pensar em seus olhos acesos no escuro, no fundo do corredor, perto da porta do quarto de Ju, onde você se deitava para esperar aquela que seu coração valente escolheu como a “dona”.
Pareciam dois faróis em meio à escuridão.
Principalmente depois que você juntava num canto do quarto todas as coisas que ela largava espalhada pela casa quando saía: peças de roupa, a camiseta que estava usando, a camisola abandonada, estojo, fazendo com tudo um ninho onde você se colocava em espera paciente.
Teve um dia até que pegou o Iphone que ela havia deixado na mesa da sala e, quando percebi, estava com ele atravessado em sua boca, como fosse uma gaita!, atravessando da sala, onde o pegara em cima da mesa, em direção ao quarto dela.
E ái daqueles que tentassem tirar você do quarto dela, em sua ausência!
Você já recebia o intruso com seu rosnado baixo e, ao mesmo tempo, decisivo: “- Fora, tudo aqui me pertence e você não passa de um intruso!”.
Todos evitavam esse encontro, até minha mulher (que era a única para quem ele não latia quando chegava da rua, para ela fazia festas sem latidos, sabia que ela não gostava de algazarra na chegada...). As pessoas que trabalhava aqui, nem pensar! Não entravam no quarto na ausência de Ju. Simples assim.
Nesses casos extremos eu era chamado, afinal tive que assumir o papel de chefe da matilha antes que você crescesse – tinha lido um livro a respeito – e o desagradável aqui, eu, chegava com o meu –“Sai!!”, que era obedecido em parte, já que nunca você saiu sem levar na boca uma daquelas peças da Ju que tinha juntado por ela, como quem em rebeldia afirmasse que saia, porém com protesto.
Belo e, como todo weimaraner, era aparentemente perigoso num primeiro olhar. Sim, para os estranhos você era uma fera até o primeiro afago. Só.
Após esse primeiro afago, sociável como ninguém, aquela pessoa passava a ser parte de seu mundo, de nosso mundo, e quantas crianças pequenas que você nunca tinha visto sentava em você, dava porrada, e isso nunca nos preocupou. Afinal, Ju e Pe nunca deixaram, graças a Deus, de ser crianças, e você chegou no auge da criancice deles, tipo 13, 14 anos, fazendo com que você visse em toda criança um amigo (Lucas foi o primeiro e maior exemplo).
Seu pelo, num cinza fantasticamente belo, e um olhar de indefinível verde acinzentado, e com seu porte elegante e nobre, nas poucas vezes em que foi à rua – sim, foram poucas se comparadas ao tempo em que vive – faziam com que muitos quisessem lhe fazer um carinho, depois de perguntar se você era “bravo”, e de todos pelo menos roubava um olhar ou um sorriso.
Você conhecia seu charme...
Se alguém estava triste, você sentia e compartilhava e, muitas vezes, creio que você até confortou.
Certamente vão me chamar de doido, mas sei que um dia você falou, em bom português, a palavra “-Não”. Claro, ninguém vai acreditar - salvo engano de memória só eu e Luce ouvimos sua manifestação - , e foi um “não” muitíssimo bem colocado para o momento, e claríssimamente bem pronunciado para não ser colocada em dúvida sua manifestação. Sei que se pudesse sorriria com essa minha inconfidência, rsrsrsrs...
Pe era o segundo colocado na lista de seu coração e era com quem você dividia a cama nas noites prenhes da ausência de Ju, já que você as considerava insuportáveis.
Daí seu mau humor, que fazia questão de demonstrar através de um aparente descaso, quando ela se arrumava e colocava aquele perfume irritante tipo só volto amanhã de manhã.
Era o quanto bastava. Nem adiantava ela querer agradar.
Você simplesmente olhava para o lado oposto quando ela tentava aquela brincadeira sem graça ou simplesmente nem olhava.
Dava uma de surdo e autista, num claro: “- Quer ir? vá,!, dane-se, mas não me enche o saco que não preciso de você”.
Vi isso alguma vezes. Ri muito com seus humores, cara.
Agora você pendura nossos corações num varal. Tentamos enxugar as lágrimas, mas são lágrimas teimosas.
Qualquer coisinha é um sobressalto. Se sua respiração muda de ritmo, se seu olhar está mais triste, se não encontra uma posição mais confortável, tudo é motivo para apertar nosso coração.
Lembro que tive minha Escolha de Sofia em que você foi a parte beneficiada. Não me arrependi.
Afinal pode viver sua vida inteira com a dignidade que merece, como um de nós que se tornou, o que jamais poderia com a presença de Netuno.
Se algo há se pagar por isso, tudo certo, estou pronto!
Valeu para você ser um cão feliz, porque assim pode nos dar tanta felicidade...
Um beijo de todos nós, grande Apolo, meu insubstituível focinhudo.
Ps. Infelizmente Apolo morreu hoje, 10/05/2009, à 20:00h.
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