quarta-feira, outubro 24, 2007

CARTA A UM COMPANHEIRO DE TRINCHEIRA



CARTA A UM COMPANHEIRO DE TRINCHEIRA





Caro Ricardo Neves Gonlalez.


Vim de ler seu post Estado Nazista, onde critica sua excelência, o digníssimo secretário de segurança do Rio de Janeiro por sua infeliz declaração que desmascarou o Estado.

Sinto-me honrado por tê-lo nesse combate ao lado do bom senso, da ética e da Democracia.

Intolero ditadura e ditadores, de maioria ou de minoria, e qualquer passo que conduza à beira desses abismos.

Muitos morreram para que hoje pudéssemos votar ou dizer que o Presidente da República é um sábio ou uma besta, dependendo da posição crítica ou ideológica de cada um, ou do preconceito onde ele exista.

Por essas razões, para mim não há diferença de pele, de crença, de opção sexual, de classe social, ou outra qualquer: muito menos, claro, econômica e social.

O discurso da mídia, sempre fiel como um cão ao seu dono (e certamente não são os pobres), sempre foi o de apontar a razão de faltar comida no prato, de sofrermos com políticas de educação, de saúde, de habitação, etc. aos “fernandinhos-beira-mar” da vida. Como? Apontando para direção diversa do ponto da estrutura que é responsável por tais aberrações; a total ausência de Justiça Social.

Crimes e criminosos são os melhores anestésicos. Apontam por dias (ou meses) para algum crime rumoroso e o povo, como gado, vai na onda. Claro que crimes como o que ceifou a vida de Tim Lopes, de Gabriela, do menino Hélio, são chocantes. Mas nem mais nem menos chocantes que os que acontecem todos os dias, às dezenas, nessa cidade e, às centenas, pelo país. Iguais.

Então um político vai e legisla por mais pena, outro lá clama pela pena de morte ou pela diminuição da idade para a imputabilidade penal, como se fôssemos acabar com a criminalidade através de mais pena.

O que teria de melhor efeito (mas não solução vez que solução apenas se dará através de Justiça Social), é acabar com a impunidade, pois não há bandido que se imagine sendo preso ou punido e vá, mesmo assim, cometer o ato. Não. O criminoso crê que “vi se dar bem” e não está nem aí se a pena é de 10, 100 anos ou de morte.

Balela pensar que se constrói um estado democrático de direito sem garantia aos direitos fundamentais de todos, incluindo os excluídos.

Mas aquela parte da sociedade formadora de opinião aplaude, como aplaudiu a verborragia nazi-fascista de sua excelência. Aliás, a mesma parte que se quedou inerte nos primeiros anos do golpe de 64 e que somente se mobilizou ao se sentir atingida. Quando matavam jovens na época dos anos malditos, a classe média apenas se insurgiu quando viu serem atingidos...seus filhos.

Hoje, o número jovens mortos subiu milhares por cento. Perto do que aconteceu nos anos duros, o que ocorreu no passado, em termos de morte e de tortura é incomparável. Mas, por serem pobres, apenas ouço um "bandido-bom-é-bandido-morto" como se fôssemos todos idiotas a acreditar que a maioria assassinada é culpada.

A classe média e alta não se insurge e até legitima o ofício.

Claro, enquanto não baterem na sua porta com o coturno e mandar sair todo mundo nu para o meio da Vieira Souto, como se faz com os pobres, na ponta de fuzis.

O governo já assumiu que há cidadãos de segunda classe. Eles, os pobres, que se tornaram "os outros".

Falta agora acabar com a hipocrisia e assumir, como alguns já fazem, que pobre não precisa ser julgado.

Culpado ou inocente, basta ser pobre para legitimar o tiro que lhe derem na cara.

Vem-me à memória parte do poema do niteroiense Eduardo Alves da Costa que muitos atribuem à Maiacósvski (em razão do título:"No caminho com Maiacósvski"):

"Na primeira noite eles se aproximam

e roubam uma flor

do nosso jardim.

E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem:

pisam as flores,

matam nosso cão,

e não dizemos nada.

Até que um dia,

o mais frágil deles

entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e,

conhecendo nosso medo,

arranca-nos a voz da garganta.

E já não podemos dizer nada"

De minha trincheira, ainda que sozinho (mas sei que conto com milhares como você, de bom senso): certamente não calarei, caro Ricardo.

Prezo muito a Democracia e os que por ela tombaram, para ficar na concha...

Minha admiração e respeito, meu caro.

E, grande abraço!

Rio de Janeiro, 24 de outubro de 2007.

Paulo da Vida Athos.

quinta-feira, outubro 18, 2007

OPERAÇÃO NA FAVELA DA CORÉIA: MODELO LETAL


OPERAÇÃO NA FAVELA DA CORÉIA: MODELO LETAL




Por Paulo da Vida Athos.



Quando o secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, em 17/10/2007, após operação em favela que deixou um saldo de 12 mortos, entre eles um menino de 4 anos e um policial civil, e mais 5 policiais feridos, vem a público para afirmar que aquela foi uma “operação que será modelo para combater tráfico” e que a “reação (dos bandidos) não surpreende. Graças ao esforço e profissionalismo da inteligência temos conseguido fazer operações com planejamento. Mesmo assim, acontecem incidentes dolorosos como a gente não quer de forma alguma que ocorra”, creio que sua excelência julga a todos nós como idiotas, ou minimamente destituídos de um mínimo de raciocínio para não reconhecer essa política de segurança letal que está sendo aplicada nas favelas da cidade.

Como resultado do “esforço e profissionalismo da inteligência”: uma dúzia de cadáveres. Não tenho como parabenizar a inteligência de sua excelência, nem o que ele considera como tal, tecnicamente falando, no plano da segurança pública. Não chupo essa manga!

Para se ter uma idéia dessa política mortal, segundo a AGÊNCIA BRASIL, as “áreas em torno das favelas do Complexo do Alemão, Vigário Geral e outras comunidades da zona norte do Rio tiveram um salto nas estatísticas sobre a violência em 2007. Segundo dados do Instituto de Segurança Pública do estado, foram 91 assassinatos e 111 mortes sob a alegação resistência - essas são as pessoas mortas pela polícia por supostamente resistirem à prisão. Ou seja: a polícia está matando mais que os criminosos naquela área. No placar macabro o time do Estado está com um saldo positivo de dez mortes.

Para mim, longe de inteligência, isso é um atestado de incompetência e brutalidade.

Muito coerente a postura de alguns setores da sociedade e do governo em doutrinar que a preocupação com direitos humanos é o mesmo que solidariedade com criminosos. Dessa forma, através de seus instrumentos mais eficazes, o rádio a televisão e o jornal, esses setores impedem com que a sociedade como um todo, principalmente aquela parcela historicamente formadora e cristalizadora de opinião, que é a classe média, atente para o fato de que um holocausto está em andamento.

O estudo feito pela Organização dos Estados Ibero-Americanos, em 2006, já colocava o Brasil como líder em jovens mortos por arma de fogo e entre os Estados brasileiros, o que apresentava as maiores taxas de homicídio na população jovem era o Rio de Janeiro (102,8 mortes por 100 mil jovens). De lá para cá ninguém duvida que as coisas por aqui, pioraram.

Em 2007 um relatório da ONU consignou que “São Paulo tem 1% dos homicídios de todo o mundo e, no Brasil, 100 pessoas morrem por dia, em média, vítimas de armas de fogo. A capital paulista e o Rio representam metade dos crimes violentos no País”.

Talvez sua excelência considere que 50 mortes por dia no Rio de Janeiro seja um grande sucesso em Segurança Pública. Talvez você que está lendo nem saiba dessa cifra que nos envergonha. Talvez a “carta branca” dada a sua excelência pelo senhor governador do Rio de Janeiro devesse ter outro nome, ou outra cor para o nome - creio que um vermelho-sangue fosse a cor mais apropriada para a tal carta - , mas estamos diante de um silencioso extermínio e quanto a isso não tem talvez.

Sim, senhoras e senhores, estamos diante de um holocausto em relação ao qual os responsáveis sabem desde sempre que não precisarão prestar contas a ninguém. Não é preciso nem dar explicações para a cena que invadiu nossas casas pela TV, de dois marginais tentando fugir das balas disparadas de um helicóptero - enquanto o narrador afirmava que os bandidos estavam armados – até serem abatidos como coelhos. Muito menos quanto aos corpos que chegam baleados pelas costas ou com balas na nuca, em sinais evidentes de execução, que chegam às centenas, por mês, no Instituto Médico Legal. Estamos legitimando essa barbárie e não teremos moral, amanhã, para reclamarmos quando ela bater à nossa porta.

Em 2004 o cientista social e antropólogo e Luiz Eduardo Soares afirmava que a “maioria das instituições de segurança pública, particularmente as polícias, na maior parte dos estados, é ingovernável’’, segundo ele, a crise no setor tem três vetores: falta de eficiência, brutalidade e corrupção. Onde é possível medir isso, o resultado é assustador. No ano passado, 1.195 pessoas foram mortas em ações policiais no Rio — mais de 65% com sinais de execução, como tiro por trás e à queima roupa. Nos últimos oito anos, essas mortes cresceram 298% no estado”.

E essa política de extermínio de suspeitos colocada em prática pelo Estado, e que a mídia se esforça para não revelar, demonstra, de forma insofismável, que o aparelho repressivo-policial não mais está submetido ao poder e ao controle do judiciário, pautado nas balizas da democracia, da constitucionalidade e da legalidade.

Hoje esse descaso com a vida está muito pior.

Estamos em uma escalada de violência fascista, sem dúvida. Para cada morte de um jovem da classe média ou alta, morrem 100 jovens pobres. As favelas viraram guetos e de guetos passaram a campo de batalha, onde o Estado somente se faz presente através da força policial-militar.

Notícia de uma morte já nem é nota de roda-pé nas redações. Não vende e deseduca.

Apenas aquelas como as de ontem, da matança na favela da Coréia, onde mais de uma dezena de jovens perderam a vida são veiculadas. E assim mesmo com certo ar de justificação por parte da mídia engajada nesse projeto neofascista, revelando a aplicação descarada da doutrina enunciada por Günther Jakobs, dissecada na teoria do Direito Penal do Inimigo no combate à criminalidade, que ao fim e ao fundo demonstra que algumas pessoas ou grupo de pessoas são tratadas como cidadãos de segunda categoria, sem os mesmos direitos conferidos aos cidadãos de primeira categoria. Eles, os favelados, são “os outros”.

Não me acenem com o discurso que legitima essa doutrina do tipo:

“- Quer o que, subir a favela com flores?”

Não! Nem flores nem fuzis!

Quero aquilo que é basilar para o Estado Democrático de Direito: respeito e garantia para com a cidadania de todos.

O que quero, é que não existam: “os outros”!



Foto: O Globo.

quarta-feira, outubro 17, 2007

TRANSGRESSOR









TRANSGRESSOR


Pronto! Sou isso mesmo.





Aprendi com o tempo em exercício pleno e diplomei-me no texto “Subindo”, de Ana Guimarães, que li em seu blog “O gozo da letra”.

Sou um transgressor!

Passei a vida transgredindo. Pulava muros e desprezava cercas, moleque que fui e sou, que se plantassem ousadas entre mim e as mangueiras, jaqueiras, ou as águas azuis de alguma piscina que se oferecesse ao desfrute diante de meus olhos.

Tendo o mar transbordando diante de mim que transbordo de amor ao mar, ainda assim a transgressão fazia de mim um penetra, um moleque atrevido, que também amante das proibidas águas doces, era nelas que mais me aprazia lavar o sal do corpo, a despeito da fúria que acendia na alma de seus senhores.

Clubes, casas, embaixadas (meu bairro, Botafogo, no Rio de Janeiro, hospedava as mais bonitas e requintadas), nada escapava. Para falar a verdade inteira: nem peixe de chafariz!

Depois outras cercas mais foram surgindo, que não ofereciam qualquer encanto ao comum das gentes. Isso me levou a indizíveis momentos e abriu muitos parênteses em meu existir. Não havia o encanto das piscinas nem dos pomares comuns. Mas, encanto havia!

Queria colher liberdade em um mundo cada vez mais senhorial. Minha alma não servia por não ser servil e, transgresoramente, como sempre, bati de frente sem pára-choques. Várias vezes.

Não mudei e continuo “batendo de frente”. Mas é mesmo assim, como peixe que nada contra a maré para saber que está vivo vez que nem sempre morrer é o não mais respirar.

Exercito minha transgressão, pelo que percebi no belo texto de Ana, até mesmo em minhas digas, na forma que lhes dou forma, que é uma não-forma, por deixá-las fluir com liberdade.

O texto todo é um primor. Mas como todo transgressor, ressalto o que me legitima:

“Criação é transgressão por definição, não pode ter limite. Xô para essa hipocrisia do politicamente correto que beira o fascismo! Um controle vigilante, uma censura prévia corre o risco de engessá-la. Fraturas no establishment são esperadas e até desejadas. Uma charge, por exemplo, nutre-se do real, do cotidiano para transcendê-lo. Não existe humor a favor, humor é sempre contra: senão, que se proíba logo tudo! (E a ironia?)”

E sorrindo como se diante de uma piscina azul, mergulho nesse norte!

Grato, Ana!


Paulo da Vida Athos.



Fonte

sexta-feira, julho 13, 2007

MINHA GRATIDÃO E MEU AMOR


Meus amados amigos.


Não vou nomear um por um, nem os que conheço pessoalmente nem os que virtualmente a vida colocou em meus caminhos.

Levaria mais tempo que dizer simplesmente: amo vocês.

Nunca me envergonhei de dizer que amo vez que para o poeta o amor é ar e me conduziu e conduz meus passos e me norteia aos meus ideais.

Amo amar, amo o amor e amo a humanidade, amo ser humano e amo o ser humano, independente de qualquer erro que tenha cometido, pois errar é da natureza humana e perdoar é da natureza do amor e convivo bem com essas coisas.

Razão por não me importar com críticas e por lutar contra o que é contra o amor:a a tortura,a intolerância, o ódio, ditaduras, ditadores e qualquer coisa que impeça o homem de ser feliz em sua plenitude.

Escrevo agora vez que voltei, ou estou voltando com vagar a esse nosso convívio. Estava impedido por razões imperiosas.

Então, já de volta a ao lado da Poesia, da Liberdade, do Amor e da Vida, agradeço a cada um e a cada um desejo longos tempos de paz e proteção.

Meu perfil já esclarece que sou "filho de um momento terno entre a Terra e o Sol, amante da Vida e da Poesia e afilhado do Tempo", e a eles rogo na certeza de que sou ouvido:

- Que vocês sejam felizes! Que sejam tempos felizes e inesquecíveis! Que o Rio de Janeiro, que o Brasil tenha Paz, toda a Paz que precisamos. Que tenhamos Justiça Social, que tenhamos capacidade de nos indignarmos contra o injusto. E, acima de tudo: que clamemos, que ergamos nossa voz nessa aliança por uma vida melhor para todos nós, sem exceção de ninguém: dos templos às calçadas, dos palácios aos presídios, pois enquanto houver um só injustiçado a Justiça não sorrirá sua plenitude. Não haverá Justiça!

Um beijo ao coração e à alma de todos.

Paulo da Vida Athos.

Ps. Amigo e Mestre Leotti, agradeço o acróstico de lisa cultura e pura poesia e amizade. Publicarei assim que estiver mais forte

quinta-feira, julho 12, 2007

MAR E LUZ, AMAR E LUCE. MARILUCE


Luce,

Mariluce

de

todas as luzes

e

dona

de

minhas auroras.






Você entrou em minha vida, em 29/10/1976. Menina ainda, ainda em flor, magnificamente bela, e seus olhos castanhos eram como dois lagos intocados e transparentes à minha alma. Poeta incurável e crônico, de pronto percebi que todos os meus amores haviam na verdade me preparado para aquele momento fantástico e indescritível: sim! Chegara o amor que eu esperara por uma vida inteira. Eu contava 25 anos (iria fazer 26 em agosto) e você contava com 17...

O mundo em que nos conhecemos era inóspito e selvagem. Você não percebera pela pureza de sua alma, de sua vida. Eu o ignorei solenemente por saber sonhar.

Sim, poetas sonham tridimensionalmente e desconstroem o mundo para reconstruí-lo de acordo com suas querências.

Naquele momento mágico minha alma encontrara sua parte perdida em algum ponto qualquer do universo e do passado e se reencontravam ali, no mundo da Música que é prima-irmã da Poesia. Fácil para um poeta perceber e se perder...

E me perdi me encontrando em seu olhar, em suas digas, em seu encantamento.

Pronto! Meu amor realizava sua plenitude e me tornava pleno e descobri que existia o orgasmo poético e até hoje seu sêmem jorra de meu interior em digas que dizem iras, em falas que falam de amor.

Mas ao entrar em minha vida trouxe muito mais. Eu, fruto de um momento de amor esquecido, tornei-me filho da Vida e afilhado da Liberdade tendo como Tempo o pai e minha casa eram todas as ruas de todas as cidades. E embora o amor e a capacidade de amar existissem em mim desde muito menino, e de força e intensidade indizíveis, poucas foram as vezes em que permiti sua manifestação, especialmente no período entre a minha primeira infância até meus treze anos. Depois o prendi e esqueci onde guardei a chave, até que você chegou naquela primavera com ela nas mãos e nos olhos.

Mas não foi só essa a chave que você me trouxe. Com ela trouxe aquilo que é a referência da Vida, a família. Trouxe um pai, uma mãe, uma irmã e até (veja como você é completa!), até um avô!!!

Papai Waldemar, mamãe Alba, Marialba, o nono...

Esse amor, ou essa forma de amar e de ser amado, aprendi sua plenitude através desse encontro, naquela primavera você acendeu todas as flores do jardim de minha vida. Aliás, quase todas...

Depois nos casamos. Na manhã de 17 de julho de 1982. Tinha que ser de manhã para que você com sua luz não acanhasse as luzes que seriam acesas nem a da lua e das estrelas que nas noites de inverno são sempre mais brilhantes.

Então sim, chegaram a Juliana e o Pedro, frutos de uma árvore enxertada por raízes vindas da luz, de Luce com seu dom de amar, já que Amar e Luce tem tudo em comum...

E, para completar a perfeição, Paula e Gustavo.

Nunca fui perfeito, vez que poetas não são perfeitos para esse mundo. Se fossem não tentariam mudá-lo com suas palavras e com sua inaceitação.

Mas como a Vida sempre me amou, colocou a perfeição para caminhar comigo ao longo dessa jornada e a cada dia que passa você é mais perfeita e a beleza que emana mais bonita.

Queria escrever isso mais adiante, mas o faço hoje para entregar para você ler mais tarde. Mas as digas do poeta são como filhos e logo as queremos ofertar à viva, ao mundo, ou a quem as inspirou.

Não! Não vou esperar nem mais um minuto e as coloco diante de seus olhos. Esse é o banquete que a Poesia me ensinou, o pão cuja massa aprendi a misturar com minhas lágrimas e sorrisos, alegrias e dores, nos momentos de fome ou de fartura, temperados com as qualidades do amor que você me ensinou a amar.

Bem que poderia esperar mais cinco dias (se tudo correr bem faremos Bodas De Prata e aguardaremos mais 25 anos para as de Ouro).

Mas o que são cinco dias diante do que tem a qualidade de eterno?

No mais, não esqueça que assim como seu amor nasceu para me amar... nasci para amar você.

Como na despedida de minha primeira carta escrita para você há 31 anos atrás, repito aquela frase...

- Beijo seus olhos!

Rio de Janeiro, 12 de julho de 2007, 5 dias antes do dia 17 de julho, mas quase 31 anos depois em que em você descobri que somos um...

Paulo

quarta-feira, julho 11, 2007

MEUS IRMÃOS.



Cidão e Corsário,


Amanhã, quinta, estarei fazendo um exame e certamente tudo correrá bem e depois de amanhã estarei novamente amando e sendo amado pela vida. Esse amor é antigo e se renova a cada manhã, e mesmo quando aos meus olhos impermitiam contemplar o azul do céu, eu o via através dos olhos de minha imaginação. Coisa de poeta e de louco.

Escrevo agora quando a noite já caiu junto com a chuva para lavar o ar e as calçadas para minha alegria e prazer. Gosto muito do barulho dos pingos da chuva que cancionam em meu telhado (temos muita sorte de termos telhas em nossas casas), e essa canção me leva a tempos idos e a pés descalços correndo pelos paralelepípedos em regatas memoráveis onde os veleiros eram palitos de sorvete que pegávamos nas calçadas (claro que tinha sempre um mais engenhoso, mas de pouco sonhar, que fazia um barquinho de papel que não suportava as corredeiras nem os pingos das chuvas). E assim muitas foram as horas e as tardes de minha infância.

De lá para cá, nunca abri mão de meu maior tesouro: sonhar. Muito menos deixei de agradecer à Vida as coisas belas que me permitiu e permite viver, a mulher e os filhos que colocou em meu caminho, nem as lágrimas que derramei. Tudo isso fez de mim o que sou e gosto de ser quem sou.

Entre os tesouros que a Vida coloca em nosso alforje, nessa viagem sem começo nem fim, o amor e a amizade são os maiores e mais valiosos, mas, ao contrário de meu xará que ficou cego quando se dirigia para damasco: a Amizade é maior que o Amor.

Falo do alto de minha experiência em Amor! Afinal, quem convive mais com o Amor que o Poeta?

Muitos vivi até encontrar minha mulher que começou com a paixão, passou pelo Amor comum, até ser o que hoje é: o Amor-Amizade, que nunca morre.

Nunca tive nem fui de ter muitos amigos. Sou amante exigente e desconfiado...

Além de meus filhos e de minha mulher, amigos só tive ao longo da vida, quatro ou cinco. Desses, apenas vocês continuam vendo o mesmo azul e respirando as mesmas auroras que eu. Os demais se foram antes de mim, antes de nós, para o grande oceano indecifrável para onde todos irão um dia.

Por isso, por não saber se amanhã dançarei minha última valsa com minha derradeira namorada, quero aqui deixar registrados meus sentimentos, minha amizade, meu respeito, minha admiração e o grande amor-amizade que sinto por cada um de vocês que sempre estiveram presentes em minhas horas, independente se eram nubladas ou raiadas de luz.

Agradeço à Vida por ter conhecido e poder privar dessa amizade leal e inteira, que recebo de vocês.

Não poderia deixar de falar isso agora vez que faço o que manda meu coração, como todo poeta.

Vida longa, paz e saúde para os dois, para a mais velha, para as crianças e para os que amam vocês!

Rio de Janeiro, 20:28h do dia 11 de julho de 2007.

quinta-feira, junho 28, 2007

LICENÇA PARA MATAR


LICENÇA PARA MATAR




por Paulo da Vida Athos.






Não vou especular na base de "quantos matariam quantos, usando essa ou aquela droga”, lícita ou ilícita. Nem quantos "tarja-preta" são desviados das farmácias e coisa e tal.

Minha matemática é mais simples e meu objetivo mais real.

O quilo da cocaína lá no produtor custa US$500, aqui chega a US$5000 na mão do traficante. Pura. Claro que depois misturam com pó de mármore ou estricnina, tanto faz, como é praxe em outros ramos que burlam o direito do consumidor por essas plagas.

Mas vejam: o imposto sobre o cigarro no Brasil é nada mais nada menos que 75%. Bom número, não?

Se o Estado arrecadar o mesmo com a cocaína, a Souza Cruz poderá colocar o quilo aqui, já manufaturado e prontinho para uso em cada boteco da vida, a menos de US$2500, em gramas embaladinhas, purinhas, com canudinho esterilizado, e ainda teria um baita lucro (mesmo com os impostos). Logo, o traficante teria que procurar outra atividade saindo de seu habitat. Tudo seria comprado sem receita, como a cachaça e outras drogas mais que aqui são vendidas licitamente.

Minha teoria é: quem quer se prejudicar, tornando-se alcoólatra ou adicto, babau. Problema dele. Se quiser matar ou roubar por estar bêbado ou trincado: vai rodar um dia. Morrer ou ser preso. Sem essa conversa mole de que não podemos aumentar o número de viciados, de “peninha de viciado”. Isso é discurso pra jegue, enganador, hipócrita.

Isso não existe! O que existe é o medo da classe média de ver seus filhos com a droga sendo vendida na porta de casa, no botequim ao lado, pois está muito claro que tem muita gente que não sabe educar filhos e os perdem, se viciando, ou roubando, ou dando porada em doméstica só porque confundiu a pobre com uma miserável prostituta. Nem vale perguntar pra desvairado se em prostituta se pode bater.

E esse medo faz com que não se importem em manter uma proibição corruptiva que municia o tráfico, que arregimenta os jovens de nossos guetos roubando-os de seus pais, roubando-lhes a vida, que só ontem matou duas dezenas desses jovens (pretos ou pobre ou ambos, culpados ou inocentes, pois ninguém me convence que eram todos culpados). Pior! Ninguém liga para esses pais, para essas mães que em nossos guetos vão perdendo seus filhos para a sedução da única oportunidade que nós permitimos a eles: o tráfico, legitimado por nossa omissão.

Que matem eles por lá, e viva a proibição!

Esse é o Direito Penal do Inimigo que estamos oferecendo, como reclamado anteriormente. E o que é ele? E isso tudo e muito mais.

A Rede Globo bate contra a Classificação Indicativa em todos os seus programas, por ser censura (eu também acho que é e que deve ser repudiada por todos que conhecem seus efeitos). Mas tão danoso para a Democracia quanto a censura, é a informação manipulada. No Brasil, a GLOBO é a rainha-mãe dessa sacanagem.

Quem viu o Jornal da Globo, antes do Jô (que se sabe, é um programa gravado à tarde) teve bem claro o que é a manipulação da notícia, que é tão abjeto quanto a censura.

O Jornal da Globo anunciou que “muitas armas de grosso calibre, inclusive duas .30, capazes de derrubarem aviões e pararem tanques, foram apreendidas, e mais de uma dezena de mortes ocorreram segundo a secretaria de segurança”. Na verdade, todos sabiam desde a tardinha que quase duas dezenas de mortes haviam ocorrido e o próprio Jô deu o número oficial, 18, sem contar os feridos.

Esse ênfase das armas e drogas apreendidas fui imensamente maior que o dado às mortes ocorridas, e esse é o papel da mídia no Direito Penal do Inimigo.

Segundo Luiz Flávio Gomes, quem “sustenta o chamado "Direito penal" do inimigo (que é uma espécie de "direito emergencial"), na verdade, pode ser caracterizado como um grande inimigo do Direito penal garantista, porque ele representa um tipo de Direito penal excepcional, contrário aos princípios liberais acolhidos pelo Estado Constitucional e Democrático de Direito.”

E o grande mestre arremata: “Não podemos concordar com a tese de que o Direito penal do inimigo seja inevitável, sob pena de assumirmos postura idêntica àqueles que acobertaram ou apoiaram o Direito penal nazista, que procurou eliminar todos os "estranhos à comunidade", mandando-os para os campos de concentração ou para o forno.”

Para mim, os favelados que estão morrendo não são “os outros”. Morro um pouco com cada um. Para mim o que estamos vendo e legitimando é a teoria difundida por Günther Jakobs que deve ser rechaçada por quem não ama ditadura ou ditadores, de direita ou de esquerda, e esse é exatamente o meu caso.

Em triste constatação, até agora, em 50 dias, 42 pessoas morreram e 73 foram feridas nos confrontos do Complexo do Alemão. E não me iludo: querem mais mortes e nós estamos dando o aval para uma guerra sem fim.

O cinismo social legitima essa política de segurança letal, por achar que é mais conveniente que colocar a droga liberada para ser vendida no botequim da esquina.

Grande engano!

Ela será vendida como já é e continuará sendo, nas esquinas e nos becos, nos templos e nos botequins.

Cegueira é não ver isso.

É não perceber que estamos financiando, via corrupção, os fuzis que nos matam.

Verão daqui a três meses ou menos, outrasmetraladoras pesadas .30 sendo apreendidas no Complexo do Alemão.

Afinal, é o dinheiro da corrupção da proibição, que compra os fuzis.

Também é nossa essa culpa.

Sim, senhoras e senhores: nós também nisso somos culpados!

sábado, junho 16, 2007

A DEMOCRACIA VIOLADA


A COVARDIA DE NÃO SE ACOVARDAR



por Paulo da Vida Athos.


O governador Sérgio Cabral afirmou nesta sexta-feira: “-Nós não vamos nos acovardar. A policia continuará numa estratégia de combate a criminalidade. A informação que nós temos é que na Vila Cruzeiro e no Alemão nós estamos conseguindo sufocar o tráfico. A capacidade financeira deles está bastante diminuta, o enfrentamento está deixando eles enfraquecidos, e nós vamos continuar esse trabalho. Nas outras áreas da cidade também.”

O que sua excelência não está levando em conta são as mortes de inocentes em meio a essa cruzada em que os “bárbaros” são todos aqueles que moram em nossas favelas. Na melhor das hipóteses passará para a história como um governante sanguinário, como alguém que oficialmente escolheu para inimigo o conjunto dos excluídos circunscrito em nossos guetos. Jamais como alguém que ajudou a melhorar a vida dos cariocas, dos cidadãos fluminenses, fomentando a educação, investindo no sistema de saúde, diminuindo o índice de desemprego, promovendo o saneamento básico ou combatendo a fome dos mais miseráveis.

Por mais que a polícia mate o inimigo (que são os criminosos), e ainda que todos os mortos fossem criminosos (e sabemos que tal não é a verdade), nenhum efeito teremos alcançado para conter o crime e a criminalidade, que não seja o de eleger uma determinada categoria de pessoas como inimiga: os favelados. As estruturas consequênciais são realimentadas pelas causas já propagadíssimas pelas ciências sociais, conhecidas por todos, que se somam à corrupção crônica de parte de nosso aparelho policial, nessa bola de neve.

A política de segurança empregada por sua excelência vai muito além da mera covardia e cruza a fronteira da insanidade. Se não bastam as 21 pessoas mortas e 63 feridas nos confrontos entre policiais e traficantes em menos de 45 dias, resultado até aqui alcançado pela pirotecnia dessas ações letais para a sociedade, devemos ficar todos de prontidão. Afinal, o que é uma ditadura senão a supressão dos direitos ou a ingarantia dos mesmos?

Não podemos ficar com os cínicos que acham tudo isso normal. Não é normal. No Estado Constitucional e Democrático de Direito, ter direitos e não ter instrumentos que os garantam é o mesmo que viver em ditadura.

O Ato Institucional n.º 5, que democratas e socialistas de gabinete tanto gostam de mencionar em suas teses e discursos contra o golpe de 64, que foi uma covardia, que deu poder de exceção aos governantes para de forma arbitrária punir os inimigos do regime militar, nem no auge de sua aplicação acobertou um escancarado banho de sangue como o que estamos testemunhando agora. Só em 2007, a polícia fluminense matou 449 pessoas em confrontos. Coisa de envergonhar quem tem pudor e colocar qualquer Médici ou Pinochet no chinelo.

No entanto, o que fazem os operadores do Direito? Nada! Era de se esperar que o Ministério Público, que é órgão fiscalizador da legalidade dos atos com repercussão social, em razão de seu dever, tomasse uma atitude. De lá, só vem silêncio. E para mim tal silêncio é omissão. O mesmo se aplica ao Poder Judiciário, que ainda legitima esses atos hostis com cara de guerra civil.

Não pode quedar inerte aquela fatia da sociedade que tem condições de ser ouvida, que é a classe média, apenas porque aparentemente não é para ela que a banda toca. Essa inércia é burra e a ela se junta o silêncio da Igreja que, através na V Conferência Geral do Episcopado da América-Latina e do Caribe, amordaçou os que participam da Teologia da Libertação, que nada mais é que o cristianismo a favor dos excluídos.

A conjunção desses dois fatores, mais o papel desempenhado pela mídia, deixa claro que o que estamos aplicando aos pobres é o Direito Penal do Inimigo, uma espécie de direito emergencial onde o delírio não encontra fronteira e inexiste controle democrático.

E o papel da mídia é fundamental. Ao legitimar as ações policiais e a política genocida de segurança pública que está sendo aplicada no Complexo do Alemão e em todas as comunidades carentes (quando a mídia não denuncia na verdade está legitimando), ela é conivente. Carros blindados e fuzis em favelas é como briga de cães entre taças de cristais. As paredes de alvenaria ou de madeira das casas e barracos são transpassadas pela munição usada em campos de batalhas. Dentro dessas casas, inocentes e excluídos são as vítimas. Crianças, velhos, senhoras, jovens e meninos, famílias inteiras à mercê da insanidade estatal e nós, nós aqui de fora, pela janela de nossas televisões, assistindo tudo entre o jantar e a novela das oito. Nós somos nós, ora bolas. Eles são os outros, os inimigos.

O Direito Penal do Inimigo, teoria difundida pelo alemão Günther Jakobs, é a aplicação nazi-fascista do Direito. É o direito seletivo. Antítese do princípio da isonomia democrática. Essa teoria dá legitimidade à barbárie que está acontecendo na cidade do Rio de Janeiro, aos excluídos da cidade do Rio de Janeiro, aos favelados, aos despossuídos, e serve como bálsamo para o cinismo social que a tudo testemunha de sua TVida.

É assim que funciona o Direito Penal do Inimigo, com o respaldo de alguns doutrinadores penais, que, nos momentos de comoção social, se somam à mídia, aos legisladores eleitoreiros, aos governantes incompetentes, para enganar o povo com alguma lei ignominiosa, mas, principalmente, para atemorizar o Juiz garantidor.

E esse é o pior dos efeitos. Ao acovardar quem tem o poder de garantir o Direito, o Juiz, deixa a sociedade inteira à mercê do arbítrio. E o que é uma ditadura senão a possibilidade efetiva de atuar impune e arbitrariamente, violando regras e estuprando almas e consciências, na certeza de que nada acontecerá?

A galeria aplaude, mas, como diz o samba, eu continuo na pista. Sei que essa guerra desastrada está há muito tempo perdida. Aliás, já nasceu derrotada.

No entanto, o que mais me incomoda é que, antes, foi preciso estuprar a Democracia.


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segunda-feira, junho 11, 2007

ODE À VILA CRUZEIRO














ODE À VILA CRUZEIRO



por Paulo da Vida Athos


Meus gritos despertam as noites,

ferem os tímpanos das madrugadas,

atravessam ruas e cidades,

violentam fronteiras,

misturam-se aos berros de dor,

aos sussurros e gemidos de amor,

ao silêncio que acompanha a lágrima que corre na face da vida,

antes de se perder no nada.


Meu grito é mais que um grito!


É lamento de cada esperança morta,

mas também vagido.


Se incomodar, pouco importa!

Vai além das janelas, não respeita portas

trancadas pelo cinismo, pelo egoísmo,

pela apatia geral.


Meu grito é irreprimível.


Sai de mim

mas pertence aos bêbados caídos em cada beco,

às putas e decaídas,

aos meninos que moram na esquina,

às vítimas de cada chacina,

à legião excluída do banquete da vida.


Meu grito é a rajada mortal,

é o som da bala perdida,

o olhar de incredulidade,

da dor surda, dor aguda,

da mãe que perde a vida,

por ela criada, por ela parida,

no momento exato e fatal

quando lhe falta o chão,

quando lhe roubam o ar,

e ainda tem que escutar...

que tudo isso é normal.


Meu grito é mais que grito!


É uivo de cão errante, malsão,

de animal em extinção,

que vai por aí sem se importar

se está na contramão,

se o vão pegar no contrapé,

se a caminhada é curta ou distante,

se o caminho existe ou se é só sonho

de alma delirante.


Meu grito é vira-lata

e será ouvido em cada esquina,

invadirá janelas abertas,

deixará certezas incertas,

converterá alguns e seguirá caminho.


Meu grito é dor de pranto,

que teimam fingir não ouvir,

que vem de escuras vielas,

dos cruzeiros, das favelas,

dos meninos em volta de velas,

sem amanhã para despertar...


Meu grito é grito demente!

Eu como ele, não mudo!

Sou desses seres inválidos para a covardia.

Dizem-me louco, digo-os surdos.




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