quarta-feira, dezembro 28, 2005



NOSSA PARTE NA BARBÁRIE.


por Paulo David.


Quando os policiais civis Fernando Guilherme Medeiros Queiroz e Luiz Hermes Ferraz Dantas saíram de suas casas para trabalhar em nosso nome, na terça feira passada, dia 27 de dezembro de 2005, não sabiam que perderiam a vida naquela manhã. Ambos foram cruel e covardemente assassinados por um bando que, armado de fuzis e pistolas, “tentavam resgatar um preso na porta do Fórum da Ilha do Governador”, segundo as autoridades. Como de praxe, no discurso de sempre quando nossos policiais são covardemente assassinados, o ilustre secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, disse que houve falha na escolta dos presos e determinou ao chefe de Polícia Civil, Álvaro Lins, que fosse aberta uma sindicância para apurar o caso. Ou seja, como de hábito deixam a casa cair para depois levantar, quando o óbvio seria não permitir sua queda. Ao final, o blá blá blá de sempre. O inquérito? Vai redundar em nada!

E por qual razão vai redundar em nada? Não se pune mortos e a responsabilidade administrativa será lançada na conta dos policiais sacrificados, que serão considerados “negligentes” ou “imperitos” na condução da escolta que acabou por ceifar-lhes a vida e, saindo pela tangente, os maiores responsáveis, quem deu a ordem e o Governo do Estado, vão ver o foguetório na Avenida Atlântica pois afinal é fim-de-ano e ninguém é de ferro. Antes fosse. Se de ferro, Fernando e Luiz Hermes estariam vivos.

Isso é a demonstração mais acachapante do despreparo de nossos agentes e da incapacidade plena de nossa política de segurança pública. Nossos policiais,civis e militares, estão sendo caçados, senhores! Mas não é de hoje! Nos últimos seis, sete anos, a caça virou caçador na selva em que deixaram a cidade do Rio de Janeiro, e sua região metropolitana, se transformar. Não me venham de forma a subestimar a inteligência do povo afirmar que vão apurar, abrir sindicância, inquéritos, e toda aquela baboseira de sempre que, sabemos todos, é conversa fiada pura e torpe.

A segurança pública se faz com gente preparada e equipada. E quem está assim: são os bandidos. E todos sabem!

As verbas que deveriam ser aplicadas de forma integral em nossa segurança pública, que ainda é insuficiente, tem sido desviada de forma absurda para programas que nada tem a ver com ela! Que visam as próximas eleições em que Fernando e Luiz não mais poderão votar.

O preso que seria resgatado era Marcélio de Souza Andrade, que seria um dos chefes do tráfico do Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, que fora preso no dia 8 de dezembro e ia ser ouvido no processo que investiga os assassinatos de dois PMs e dois vigilantes da Fiocruz em maio do ano passado. Um homem desses não poderia sair como um zé mané qualquer. Tinha que ter escolta preparada, do CORE, do BOPE, do SOE ou de todos esses órgãos juntos. O cara era bicho solto. Era...

Não poderemos nem mesmo saber a verdade inteira. Quem mandou, quem articulou, como chegar aos demais membros do bando. Nossos despreparados policiais, revoltados justificadamente, não queriam prender ninguém: queriam caçar. Queriam a vingança e a conseguiram. Com isso não há investigação a fazer.

Por que falo que foi uma caçada? Simples. Segundo o comandante do 17º BPM (Ilha), tenente-coronel Roberto Alves de Lima, 50 policiais civis e militares e 30 soldados da Aeronáutica participaram da caçada aos fugitivos. Às 14h, receberam auxílio de cães farejadores da polícia e da Aeronáutica.

Segundo o comandante, Marcélio e um outro bandido, não identificado, foram encontrados mortos na área militar. Com eles foi achado um fuzil HK, além do fuzil e das pistolas dos policiais mortos. Os outros dois criminosos - que não tiveram os nomes informados pela polícia - foram capturados só à noite, pulando o muro para deixar a área militar. Um deles será apresentado na Polinter nesta quarta-feira. O outro não poderá ser apresentando à imprensa por ser menor de idade.

Fora “encontrados mortos” uma ova, foram mortos por burrice e despreparo. O pior é que se o tal Marcélio abre o bico, muita coisa poderia ser esclarecida. Mas agora é tarde, Inês é morta. Inês, não: Marcélio. Se levado a interrogatório e se abre o bico, muito mais ganharia a polícia e a sociedade. Mas não posso culpar os policiais que estavam na caçada a homens que mataram colegas seus que estão sendo mortos como moscas.

Não posso culpá-los pela insegurança que eles próprios estão vivendo, colocando todos os dias suas vidas por uma sociedade que ainda não percebeu que o que está matando nossos policiais é o nosso silêncio! Essa de falta de garra, de sair ás ruas e exigir do Governo do Estado que forneça preparo e equipamento para nossos policiais, que abra concursos para suprir a carência de componentes em nossas forças policiais, esse nosso silêncio cínico e assustador, está permitindo a morte de pessoas como Fernando Guilherme e Luiz Hermes.

Da mesma forma, indago, como culpar os dois policiais militares do 9.º BPM de Rocha Miranda, o soldado Henrique e o cabo Fernandes, acusados de terem matado na segunda-feira, dia 26 de dezembro, dois jovens que chegavam de moto na favela do Acari?

No entanto eles estão presos vez que foram acusados por moradores de Acari de terem assassinado os dois jovens que chegavam de moto à favela. O soldado Henrique, que de acordo com testemunhas seria o autor dos disparos, e o cabo Fernandes, foram autuados por homicídio doloso pelo delegado Paulo de Oliveira, da 39 DP (Pavuna), que se baseou em denúncias de moradores. O coronel Murilo Leite, comandante do 9 BPM, disse que foi instaurado um Inquérito Policial Militar.

O coronel afirmou que levou a testemunha para a delegacia porquê quer “a verdade” e que não está do lado de ninguém.

Os policiais se defendem e afirmam que os jovens estavam armados, dando escolta a um Gol branco com outros traficantes. Pode ser verdade? Pode! Tem tudo para ser verdade? Tem! Teriam agido em legítima defesa, já que foram encontradas e apreendidas armas nas mãos dos dois jovens, conforme afirmou o relações públicas da PMERJ, tenente-coronel Aristeu Leonardo. Mas também pode não ser, e as tais armas serem “velas”, que é um tipo de mascaração do local do crime quando se “planta” armas na mão do morto para aparentar a legítima defesa.

Mas se exercitarmos a imaginação, imagimenos o seguinte quadro: dois homens em uma moto entrando em uma favela. É de domínio público o conhecimento de que o tráfico monta sua guarda assim, em quase todas as favelas do Rio de Janeiro. Um toca a moto e o outro é o braço armado. De noite, ninguém vai “pagar para ver”.

Segundo o laudo do Instituto Médico Legal, o tiro entrou pelo lado direito da cabeça dos jovens, no rosto de um e no pescoço do outro. O laudo mostra ainda que o tiro foi disparado de um fuzil, provavelmente de calibre 7.62.

Não. Não se pode culpar esses policiais nesse quadro de insanidade em que se encontra nossa política de (in)segurança pública. No máximo é legitima defesa putativa, situação na qual o agente imagina algo que se de fato estivesse ocorrendo legitimaria sua ação. Pensar que eram “soldados’ do tráfico é mais que plausível!

Culpo esse governo minúsculo, com sua política de segurança minúscula, que está deixando matar a população e os policiais que dela faz parte.

Não. Não se pode culpar esses policiais. Eu lamento pelos jovens se forem inocentes e lamento por seus pais e amigos.

Mas se Fernando Guilherme e Luiz Hermes, os policiais civis assassinados da porta do Forum não “pagassem para ver”, poderiam estar entre nós.

Culpo sim, ao Governo do Estado do Rio de Janeiro pela morte de todos que me referi aqui. Mas no mesmo banco de réus, coloco-me e a toda a sociedade!

Nosso silêncio e omissão, é a parte que nos cabe na barbárie.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

MEU CARTÃO DE NATAL...


por Paulo David.


Não sei muito bem procurar cartões,
Desses lindos que muitos já enviaram para mim,
Para retribuir.

Não sei desenhar ou pintar.
Sei amar e viver,
E ser grato à vida e a você,
Que não se esqueceram de mim...

No entanto pegarei um céu azul,
Bonito, com nuvens no horizonte
Já avermelhadas pelo sol poente.

Colocarei sob o céu,
As nuvens e o sol,
Um vale e nele um lago azul
Onde esse mesmo céu se espelha e se embriaga
Observando o esplendor de si próprio,
De sua própria beleza indizível.

Agora planto uma floresta
Esverdeando tudo.
E montanhas ao longe também virgens em seu verdor
De mata ainda intocada pelo homem. Só pelo vento.

Coloco pássaros cortando a vermelhidão do ocaso
E um perfume de flores conduzido pela brisa
Que por gosto ou acaso
Atravessa a floresta e impregna o ar.

O canto das aves
E todos os sons das matas
Fazem a sinfonia nesse quadro
E, num solo, ao longe
A orquestra se completa com a queda
Das águas da cachoeira distante
Onde, por sobre a qual,
Se acende um arco-íris!

Pronto.

Está feito seu cartão de Natal!

Coloque-se nele...

E que papai Noel, o do Céu
Aquele no qual você crê,
Traga para todos nós de presente:
Um 2006, assim!

segunda-feira, dezembro 19, 2005



NÓS? SOMOS “OS OUTROS”...





por Paulo David.


Estamos em mês de festas. Existe no ar algo inebriante que faz nossa alma divagar, que faz com que adormeçamos em sonhos e despertemos em festa. O cerne da felicidade e da realização utópica nos transpassa o coração que dança no fluir de nossa embriaguez. O Natal é lindo, o Ano Novo é lindo, tudo fica mais lindo, até o pôr-do-sol. Tudo fica diferente e mágico.

As árvores iluminadas por micro lâmpadas, a fachada dos prédios e das casas, a maior árvore de natal flutuante do mundo! Nós somos o máximo! A vida é o máximo! O ano que vem será o máximo! Tudo pensado assim e vivido assim, como no ano passado e nos outros já passados anos também. O nome disso: esperança. Eu amo a esperança, tanto quanto qualquer um. Conto com ela, como todos nós. Até por que ela será a penúltima que verei morrer antes de mim...

Lembro que me despedi de 2004 com amargura. O fato que mais me marcara não ocorrera no Iraque, mas na minha cara, num bairro chamado Benfica, na cidade do Rio de Janeiro. Foi em 1º de junho de 2004 quando mais de 30 pessoas foram massacrados no que no que a história registrará como a “Chacina de Benfica”.

Eu tinha esperança de que 2005 me brindaria, nos brindaria, com paz.

Quando o menor um menor de 16 anos, diz que policiais militares do posto de policiamento comunitário de uma favela (Parada de Lucas, Rio de Janeiro) receberam R$ 50 mil para ajudar traficantes da favela na invasão de uma favela rival e limítrofe (a de Vigário Geral), ocorrida na madrugada 13 de dezembro de 2005, ocasião em que oito jovens foram seqüestrados, nominando o corruptor, um traficante, e reconhecendo um dos policiais militares, é uma coisa doída.

Quando então é revelado que tal apoio se deu para facilitar o ataque de um grupo de traficantes de uma facção contra outra facção, que o Governo do Estado desmente existir, como se fosse ele o último dos arautos da cegueira social, e, mais ainda, quando se sabe que tal grupo de policiais militares ainda acionaram de forma enganosa sua corporação para que enviassem um carro blindado para apoiar esse ataque (chamado de Caveirão), a coisa é doida mesmo.

Imaginemos a cena: na frente uma guarnição de policiais militares armados com fuzis, pistolas e metralhadoras, seguidos pelo carro blindado que leva o nome que leva mas poderia bem ser chamado de dragão, pois cospe fogo e chumbo grosso para todos os lados, e, fechando a cunha de ataque, traficantes em maior número que os próprios policiais que compraram, com armas muito mais sofisticadas e potentes que aqueles, num golpe de mestre!

Quem imaginaria que a polícia iria se dar a praticar tomada de território de venda de entorpecentes, apoiando o fogo de uma ala dos marginais? Nós não. Mas eles, os bandidos de ambos os lados, sim. Não só imaginam como sabem. Isso fica claro pela chamada do tal veículo blindado (que aqui, por questão de justiça, se deixe claro que os integrantes do veículo de nada sabiam, estavam no quartel quando o caveirão foi requisitado para apoio).

Isso ocorre porquê nossa polícia militar, por culpa de sua política burra de ostensividade, associada ao número cada vez maior de policiais que se tornam bandidos de carteira, não tem qualquer crédito em nossos quilombos, em nossos guetos, em nossas miseráveis favelas. Lá, só acreditam em uma coisa quanto a esses policiais: são bandidos e matam. Com a política de PPC (Posto de Policiamento Comunitário) que instalaram em alguns de nossos guetos, o Governo do Estado criou verdadeiras “embaixadas” onde bandidos traficantes e bandidos policiais negociam tudo. De quanto custará fechar os olhos para o tráfico e outros crimes, até a negociação de participar momentaneamente para tomar um território rentável do vizinho inimigo. Isso quando não se contrata e negocia a própria execução de um colega de farda que não quis participar do botim nem do “jogo”.

Não sem razão volta e meia vemos na mídia que policiais militares atiraram em policiais militares que estavam em outra operação, fora de sua área de atuação.

A favela invadida tem notoriedade internacional: Vigário Geral. Todos dela já ouviram falar desde a chacina quando 21 pessoas foram mortas, em agosto de 1993. O Ministério Público denunciou, na época, 52 policiais militares. Desse total, apenas sete foram condenados pelo 2º Tribunal do Júri da Capital. Os demais foram absolvidos por falta de provas.

Parece que Vigário Geral caiu em desgraça geral em razão de nosso silêncio geral.

Mas 2005 foi um grande ano para nossos chacinadores! Um ano farto!

No dia 3 de dezembro desse ano, em mais uma chacina, dessa vez no Morro do Estado, quilombo situado em Niterói, Rio de janeiro, morreram os meninos Welington Santiago Oliveira Lima, 11, e Luciano Rocha Tavares, 12, além de outros dois adolescentes e um jovem. Os PMs haviam alegado que eles estavam envolvidos no tráfico de drogas, mas os moradores da região negam a acusação.

Na madrugada de 31 de março para 1.º de abril desse ano – que data mais marcada essa - ocorreu a chacina praticada por policiais militares que queriam “marcar território” na Baixada Fluminense, deixando um saldo de pelo menos 30 mortos, entre crianças, mulheres e adultos, Todos inocentes! Todos trabalhadores e crianças que estavam perto de suas casas.

Na época a Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro divulgou nota à imprensa, na qual se lia: "A Secretaria de Segurança Pública trabalha com a forte hipótese de que as chacinas podem ter sido uma represália à operação Navalha da Carne que prendeu oito policiais militares suspeitos de terem cometido um duplo assassinato nos fundos do 15º BPM, de Duque de Caxias”.

Essas chacinas são o atestado de incompetência crônica de nossas autoridades em segurança pública e do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A impunidade tem sido o adubo para o banditismo civil e policial. Parece que não bastam mais nossas montanhas anuais de cadáveres e ainda existem os cínicos que fazem da Pena de Morte seu motor eleitoral. Já temos a Pena de Morte. O que não temos é Governo e Segurança Pública! Ah! Nem vergonha na cara! Podem apostar que não renovaremos nem um terço de nossas Câmaras municipais, estaduais e federais, e muito menos do Senado da República.

E aos imbecis de plantão, que vão me criticar, um alerta. Por mais que a polícia mate, as estruturas da criminalidade permanecem intocáveis e intocados. Mata um Lulu? Tem dez, cem, mil, dez mil, milhões para assumirem seu lugar.

Não há Justiça Social e, não havendo, há crime!

Alguns ficaram contentes e louvarão essas e outras mortes. Mas o cidadão de bem, que é lúcido, que mantém com seus impostos essa polícia que aí está, cada dia que passa está mais convencido de que essa estratégia que usam de há muito fez dessa guerra uma guerra perdida.

Essa política de extermínio que muitos aplaudiram, juntou traficantes e policiais bandidos.

Nós? Ora. Nós não temos carros blindados, seguranças, helicópteros, etc.

Nós não temos fuzis nem “caveirões”.

Nós, somos “os outros”...

quinta-feira, dezembro 08, 2005


HOJE É DIA DA JUSTIÇA: PREPAREM SEUS TAMBORINS!


por Paulo David.


Hoje é dia 8 de dezembro, data em que se comemora o Dia da Justiça, Dia Nacional da Família, dia que também é o de Nossa Senhora da Conceição. Isso me transporta ao quanto nosso povo é religioso. Gosto de nosso povo cristão, católico, candoblecista, umbandista, kardecista e com outros segmentos mais de religiosidade pungente, tão mestiço quanto nossa gente, que envaidecido chega a afirmar, de forma altiva e parcialíssima que “Deus é Brasileiro!”.

Cada qual em sua religiosidade afirma a bondade de Deus e o maravilhoso pai que Ele é. O Pai do Amor, o Pai da paz, o Pai do Perdão. Somo mesmos abençoados. Também, pudera, com tantos caminhos que temos para nos religarmos a Ele, seria inconcebível um país com menos cataclismos que o nosso e com pessoas melhores que nós, em qualquer recanto dessa terra sem fim. Se os palestinos e judeus que estão se matando no oriente médio tivessem idéia do que acontece no Rio de Janeiro, a convivência mais que pacífica, irmanada mesmo, existente do SAARA (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega) o maior centro comercial ao ar livre do Estado, diriam que é mentira. Mas não é e como hoje é um meio feriado, vou ler meus jornais.

Logo de cara a matéria sem muito destaque afirma que “peritos e procurador concluem, com base em laudos cadavéricos, que pelo menos duas vítimas foram mortas de forma sumária”. O crime, uma chacina, ocorreu no Morro do Estado, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, e teve como vítimas Wellington Santiago Oliveira Lima, 11 anos, e José Maicon dos Santos Fragoso, 16 anos, e os peritos afirmam que “não têm dúvidas de que os dois foram executados pelos policiais militares”, com diversos tiros disparados à curta distância contra as vítimas. Wellington foi assassinado com um tiro na parte de trás da cabeça, disparado de cima para baixo. “Acreditamos que ele tenha caído e sido colocado de peito para cima pelos atiradores, que dispararam mais três tiros em seu peito”, afirma um policial. O garoto ainda foi atingido num dos braços.

O subprocurador-geral de Direitos Humanos do Ministério Público (MP), Leonardo Chaves, que também analisou os laudos, afirmou que os documentos demonstram uma execução grave. “Há indícios de uma execução”, teria afirmado. Indícios, senhor procurador?

O deputado Geraldo Moreira, presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, afirma de forma a não deixar dúvidas: “-No local da reconstituição, percebi que só há marcas de tiros na direção do local onde estavam as vítimas. Não vi tiros na direção de onde estavam os PMs. Chamei a atenção dos peritos para isso”.

José Maicon, foi atingido por um tiro à queima-roupa no olho esquerdo. Há uma fratura no braço esquerdo, que indica que a ainda tentara se defender. “Em tese, o ferimento é apontado como lesão de defesa. Geralmente, a pessoa quando vai morrer, não por troca de tiros, leva a mão à frente do rosto. É um reflexo”, explicou o titular da Delegacia de Homicídios de Niterói, Paulo Henrique Silva Pinto. Maicon perdeu ainda o polegar esquerdo com o disparo, além de ter sido atingido por mais seis tiros nas pernas e costas.

Ainda sem me recompor, em nota de menor destaque leio que uma das participantes do incêndio criminoso no ônibus 350 (Passeio-Irajá), na Penha, na madrugada da última quarta-feira, Sabrina Aperecida Marques Mendes, Brina, 21 anos, a namorada de Lorde, foi presa na favela White Martins, em Brás de Pina. Ela será apresentada às 11h na Delegacia Repressão à Entorpecentes (DRE) de Vila Isabel.

Anderson Gonçalves dos Santos, o Lorde, é apontado pela polícia como o líder da queima do ônibus 350 em que cinco passageiros morreram carbonizados, entre eles Vitória, uma criança de um ano. Lorde foi preso por tráfico de drogas em 1998, em Araruama. Segundo o relatório, ele, que atualmente tem 25 anos, experimentou maconha pela primeira vez aos 17 e começou a andar com amigos que usavam drogas. Lorde foi preso por tráfico de drogas em 1998, em Araruama. Segundo o relatório, ele, que atualmente tem 25 anos, experimentou maconha pela primeira vez aos 17 e começou a andar com amigos que usavam drogas.

Duas chacinas. Duas barbáries. Iguais em seu grau de torpeza e crueldade. As vítimas desse segundo caso, morreram queimadas no ônibus em que traficantes determinaram que fosse incendiado e que não deixassem sair os passageiros; as vítimas do primeiro caso, policiais militares passaram fogo.

Aparentemente as duas notícias não têm ligação alguma. Mas só aparentemente. Os dois casos se ligam de diversas formas.

A impunidade é o primeiro e o que fica mais a vista, pois assim quer a mídia. Seu desejo é vender. A tragédia de sangue vende rápida e eficazmente. Se houver alguns aditivos, a venda é ainda maior. Policiais envolvidos, barbaridade, horror, menores, moças bonitas, classe média, tráfico de entorpecentes, etc. Se tem um ricaço envolvido então...

Mas ricaços geralmente não ficam por aí incendiando ônibus ou matando menores a chumbo quente. Preferem as malas e sonegar o fisco... A imprensa não liga muito para isso, só quando quer derrubar algum político que atrapalha o empresário da mídia ou alguma pessoa de seu grupo. Fora isso, noves fora nada.

Não é importante investigar as grandes fraudes contra o sistema fiscal, as burlas que sugam bilhões que não chegam ao erário, ou mesmo algumas que retiram bilhões que lá entraram.

Quem pode sonegar milhões não sou eu e você, não é o jornaleiro da esquina, muito menos essa maioria silenciada e cegada pela mídia que lhe colocou antolhos doutrinando: “-Os culpados de você ganhar essa merreca que está ganhando para ralar em sua semi-escravidão, são esses marginaizinhos aí...” , ou “- Os culpados de não ter feijão e arroz em sua panela, é essa gentalha criminosa que colocamos aqui nessa página, ou no jornal televisivo do horário nobre, mas não se preocupe que vamos depois te recompensar pondo eles na prisão e passando o próximo capítulo da novela”...

Então, não é de se estranhar a histeria presente da população. Esse trabalho de lavagem cerebral através dos instrumentos de comunicação do poder (e me refiro aqui ao poder econômico), atravessou o século passado e desembocou já nesse novo milênio de forma mais insidiosa e violenta.

Na última quadra do século XX conseguiram a burla contra o povo de que iriam resolver o problema da violência e da criminalidade aumentando as penas. Tipo acabar com a fome exterminando pobres. Coisa sem nexo, sem lógica e sem efeito que não seja sua pirotecnia momentânea. Anotem: nessa década ainda pugnarão pela pena de morte e pela prisão perpétua, que é o que falta. O povo, mais uma vez, vai na onda. Onda brava, por sinal. E contra ele. Ou alguém duvida de que a clientela alvo dessas penas não serão justamente, os pobres?

E o que tem isso com as matérias que li nos jornais de hoje? Tudo! Todas as pessoas envolvidas, inclusive os policiais militares, são oriundos dos mesmos bolsões de pobreza! Sem exceção! Foi assim ontem, é assim hoje e será assim amanhã.

Quero ver a mídia investigar seus próceres. Mas isso, só em sonho. A mídia, assim como a polícia, historicamente foram criados por quem está no poder para nele se manter. Fora um ou outro afortunado que ganha uma bolada na mega-sena: o tombo da carruagem não vai mudar. Os pobres ficarão cada vez mais pobres e os ricos cada vez mais ricos, e os criminosos virão do grupo de sempre, dos três pés: puta, pobre e preto. Não necessariamente nessa ordem.

Senhores, a mídia não propagará aos quatro ventos que desde a implantação do plano real, o INPC cresceu 198% ao passo que os combustíveis domésticos (gás) subiram 600,16%, a energia 447%, os combustíveis veiculares 354,32%, os planos de saúde 250,88%, o transporte público 391,84% e as comunicações 694,10%. Muito menos falará que a crise da violência e o aumento da criminalidade deitam aí suas raízes. Some-se a tal as grandes fraudes, as sudenes da vida, que retiram de nossa juventude há décadas a escola, a habitação, a saúde e os sonhos, fica fácil saber de quem somos vítimas. O nome disso: saque! Estamos sendo saqueados de forma avassaladora, mas é preciso que acreditemos nessa história pra boi dormir que vivem nos contando. Somos historicamente as vítimas institucionais e estruturais. Mas somos um povo bom. Pacífico. Quando deixarmos de crer nisso: haverá uma revolução que nascerá da convulsão social. Quando a cortina da ilusão que nos é imposta se rasgar de vez e nos colocar cara a cara com a verdade, creio que além de conhecê-la perderemos esse cinismo que nos encapa e tomaremos vergonha na cara: para cobrar!

Isso é uma chacina institucional que mata centenas de brasileiros por dia! Muitos, de fome!

Mas como somos ainda um povo meio homem meio gado, um povo muito temente a Deus (que vive pedindo a Pena de Morte para esses traficantes, bandidos e chacinadores que vemos nos jornais: afinal podemos contribuir aumentando o número de cadáveres e fingir que fizemos alguma coisa), e, principalmente, como hoje é Dia da Justiça, Dia nacional da Família e de Nossa Senhora da Conceição, vou fechar meus jornais e deixar esse assunto bobo pra lá.

Afinal, o carnaval está chegando. É logo depois do Natal e do Ano Novo...

No final, morreremos todos.


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sábado, dezembro 03, 2005


ATÉ A MINHA ÚLTIMA VALSA!

por Paulo da Vida Athos.

Queria chegar como uma brisa ligeira para agradecer a cada um de vocês por tê-los como amigos, por não estar só em minhas lutas.

Queria mais. Muito mais.

Queria colocar uma medalha de Honra ao Mérito no peito de cada um e uma coroa de louros na fronte de cada um, por que vocês são pessoas mais que únicas, são especiais.

Falo não só da capacidade intelectual que vislumbro em suas digas, em suas palavras, na força que elas me dão; falo é do interior de cada um; da beleza infinita e única que vejo em cada um de vocês; nessa capacidade de se dar, de se entregar, de doar amor, de se doar ao outro: sem nada pedir.

Não parece, mas cada palavra pronunciada ou escrita tem seu lugar na eternidade e ecoa nos espaços e na humanidade, passando de ser para ser, de homem para homem, de mulher para mulher, cirandando com as crianças e sussurrando a frase chave:

-“Nós tornaremos o mundo melhor!”

Sim. Não tenho dúvida da capacidade desse pequeno-grande-exército que formamos. Já fomos muito menos.

Nossa voz e nossas palavras escritas se espalham pela terra e pelos espaços na voz do vento e dos anjos, pois somos pessoas do bem, lutamos pelo bem, estamos ao lado do bem.

Quando gritamos nossas iras contra a tortura, não pedimos a morte ou a aflição para o torturador: pedimos à Vida, que o traga para o nosso lado.

E, ao torturado, que aprenda o perdão e que não perca a coragem de lutar por outros que, nesse momento, estão sendo alvo de prática de tortura: na delegacia do nosso bairro, num quartel de nossa cidade, num desvão de nosso país, por todos os recantos e campos da Terra.

Enquanto houver alguém sendo torturado, ainda não vencemos a tortura.

Igualmente se dá com relação à Pena de Morte: que nada resolve. Só aumenta o número de cadáveres e a tristeza da Vida.

Besteira pensar que se acaba a violência com mais violência ou que se colhe amor semeando ódio e intolerância.

Falta Justiça Social? Falta! E a ausência dela é a grande responsável por tudo isso que fere o mundo.

Lutemos por Justiça Social. Sem ódio. Nossos adversários políticos ou ideológicos, não devem ser olhados como inimigos. Qualquer um que defenda a Justiça Social, que está ao lado do bem, lutando pelo bem: já considero um irmão. Independente de time ou de partidos políticos. Não precisa torcer pelo meu time: basta amar o outro, basta propagar o bem e torcer pela humanidade. Acima de tudo: perco um campeonato, uma eleição, mas não quero perder uma vida.

A Vida e a Liberdade caminham ao meu lado. Elas me levaram até vocês.

E disso não abro mão: com vocês ficarei até o anúncio de minha última valsa!



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quinta-feira, dezembro 01, 2005


DIRCEU, A DEMOCRACIA E NÓS



Por Paulo da Vida Athos


O espaço de nossas utopias é o espaço em que a coragem e o sonho dividem nosso coração.

Quanto maior a coragem e a capacidade de sonhar, tanto maior é o espaço que temos para colocar nossos ideais. Uns os têm muito grandes, outros, quase nenhum espaço ou ele é muito acanhado.

A manifestação da Justiça, e falo na mais importante que é a Justiça Social, é estrutural. Não reside no espaço de um tempo breve, mas naquilo que tem nela a sua qualidade maior: a perpetuação.

A conjuntura derrubou José Dirceu, mas o que é conjuntural tem a qualidade do que é passageiro.

O tempo é quem determinará a perpetuação ou o ostracismo do que no homem existe ou fez, através da História.

Creio que ela estará ao lado de José Dirceu e de Lula.

O que vimos ontem no Congresso nacional já tem dois fatores para que a História perpetue aqueles fatos. Primeiro, a própria trajetória de vida de José Dirceu; finalmente em razão de terem através do Legislativo e do Judiciário, arquitetado um arremedo de justiça. E arremedo de justiça é injustiça mesmo, dessas deslavadas.

Não desista. Dirceu não o fará. Não se sinta uma pessoa desolada mas indignada.

Todo homem tem direito ao devido processo legal, diz a Democracia que Dirceu ajudou a restabelecer no Brasil. Mas a sordidez da política negou-a a ele.

Os que o cassarão hoje passarão, são pequenos.

Mas não aquilo que Dirceu sonhou e realizou. Isso não passará.

Nem a sua, nem o minha, nem a nossa capacidade de sonhar, de nos indignarmos mas, principalmente: de continuarmos com a nossa luta!

De cabeça erguida, em nome de toda uma luta que ajudou a restabelecer a Democracia nesse país, sigamos em frente.

Não nos calaram ontem quando todos emudeceram e se humilharam!

Não nos calarão hoje aqueles que são os covardes de sempre!

Podem nos roubar até a Vida!

Jamais a honra e o sonho.

E a coragem de lutar por ele. E com ele.

O tempo nos dará razão.

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sexta-feira, novembro 25, 2005


AO JUIZ LIVINGSTON JOSÉ MACHADO? APLAUSOS!


Por Paulo da Vida Athos



Quando o Juiz Livingston José Machado, da Vara de Execuções Criminais de Contagem, em Minas Gerais, mandou libertar 16 presos da carceragem do 1º Distrito Policial da cidade, não fez mais que sua obrigação. Tinha o dever legal de assim agir e, se não o fizesse, estaria, ele sim, cometendo um crime em tese: o de prevaricação, que é retardar ou deixar de cumprir ato com relação ao qual tem o dever de ofício de fazer. Para ficar no mínimo.

Sua ação: determinou a expedição de alvará de soltura para 16 presos da carceragem do 1º Distrito Policial da cidade. O local tem capacidade para oito pessoas, mas estava com 37. Todos eram condenados por assalto ou homicídio. Só mais não fez por ter sido impedido por determinação superior do Tribunal de Justiça mineiro.

Não me espanta sua atitude: todos os presos deveriam ser libertados nas condições em que se encontravam, apinhados como gado e alimentados como porcos, coisa comum nas carceragens brasileiras.

O que me espantou mesmo não foi esse ato de coragem em garantir a aplicação da Lei em um país que ultimamente tem por hábito aplaudir criminosos ou de elegê-los heróis. A causa de meu espanto foi o papel da mídia ao condenar o Juiz.

O Art. 5º da Constituição Federal é esclarecedor quanto ao preso e ao cumprimento de sua prisão: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;

(...)

XLVIII - a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

(...)

XLIX - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

Ou seja: a execução penal, no Estado Democrático e de Direito, deve observar estritamente os limites da lei e do necessário ao cumprimento da pena e da medida de segurança. Tudo o que excede aos limites contraria direitos.

A Lei de Execução Penal ( 7.210, de Julho de 1984), conhecida como LEP, estabelece nos termos de seu art. 41, que são direitos do preso: I - alimentação suficiente e vestuário; II - atribuição de trabalho e sua remuneração; III - previdência social; IV - constituição de pecúlio; V - proporcionalidade na distribuição do tempo para o trabalho, o descanso e a recreação; VI - exercício das atividades profissionais, intelectuais, artísticas e desportivas anteriores, desde que compatíveis com a execução da pena; VII - assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa; VIII - proteção contra qualquer forma de sensacionalismo; IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado; X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI - chamamento nominal; XII - igualdade de tratamento, salvo quanto às exigências da individualização da pena; XIII - audiência especial com o diretor do estabelecimento; XIV - representação e petição a qualquer autoridade em defesa de direito; XV - contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes.

Quanto aos condenado e alojados em penitenciárias, diz a LEP:

Art. 88 - O condenado será alojado em cela individual que conterá dormitório, aparelho sanitário e lavatório.

Parágrafo único - São requisitos básicos da unidade celular:

a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana;

b) área mínima de 6 m2 (seis metros quadrados).

Quanto aos presos provisórios, nas chamadas Cadeias Públicas (em algumas unidades federativas chamadas de Carceragem), a LEP determina:

Art. 102 - A Cadeia Pública destina-se ao recolhimento de presos provisórios.

Art. 103 - Cada comarca terá, pelo menos, uma Cadeia Pública a fim de resguardar o interesse da administração da justiça criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio social e familiar.

Art. 104 - O estabelecimento de que trata este Capítulo será instalado próximo de centro urbano, observando-se na construção as exigências mínimas referidas no Art. 88 e seu parágrafo único desta Lei.

O artigo 88 mencionado é aquele que já transcrevemos acima.

Determina a Declaração Universal dos Direitos Humanos

(...)

Artigo V - Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

(...)

Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante a lei.

(...)

Artigo VII - Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

(...)

Artigo VIII - Toda pessoa tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

O Brasil é signatário dos principais pactos sobre o assunto: Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, Pactos sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, a Convenção para Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, convenções sobre discriminação racial, sobre discriminação contra a mulher, sobre tortura e sobre direitos da criança; o Pacto de São José, e a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura.

Essa última, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), deu azo ao Decreto nº. 678, de 6 de novembro de 1992 que promulgou-a nos seguintes termos:

“O Vice-presidente da República, no exercício do cargo de Presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII, da Constituição, e Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), adotada no âmbito da Organização dos Estados Americanos, em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, entrou em vigor internacional em 18 de julho de 1978, na forma do segundo parágrafo de seu art. 74; Considerando que o Governo brasileiro depositou a carta de adesão a essa convenção em 25 de setembro de 1992; Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) entrou em vigor, para o Brasil, em 25 de setembro de 1992 , de conformidade com o disposto no segundo parágrafo de seu art. 74; Decreta:

Art. 1º A Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), celebrada em São José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969, apensa por cópia ao presente decreto, deverá ser cumprida tão inteiramente como nela se contém.

(...)

Art. 3º O presente decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 6 de novembro de 1992; 171º da Independência e 104º da República.

Itamar Franco

Fernando Henrique Cardoso”

Reza o artigo 5.º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, que, como vimos de ver, é o Brasil signatário, o que segue:

Art. 5º

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com o respeito devido à dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinqüente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, a ser submetidos a tratamento adequado à sua condição de pessoas não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, para seu tratamento.

6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a readaptação social dos condenados.

Agora sim, voltemos ao Juiz e à mídia.

Quer a mídia Liberdade de Expressão. Eu também. Mas o linchamento moral que de forma alienada e monstruosa estão fazendo com quem apenas está agindo como um Juiz garantidor, é imoral! Não é liberdade: mas libertinagem!

Quando um juiz é Juiz, ele tem como senhores apenas sua consciência e, a Lei! Pelo princípio da isonomia que estabelece a igualdade de todos perante a ela, não cabe a quem quer que seja determinar a quem deva ou não deva a Lei atingir. Foi feita para todos nós, homens e mulheres, não para anjos e demônios ou para santos e animais.

Puro estupidez achar que a lei não é para todos. Pura ignorância jurídica considerar irresponsável o Juiz Livingston José Machado, por ter cumprido a Lei.

Nossos legisladores e governantes não são pagos para dizer que a lei é bonitinha demais, ou avançada demais, para ser aplicada no Brasil. São eleitos e pagos por nós, justamente para isso: cumprir a Lei!

Em nossa insanidade onírica, achamos que nossas fossas sociais, que são nossos presídios e cadeias públicas, foram feitas sempre para “o outro”. Não, senhores. Não foram.

Foram feitas e assim estão para todos nós! Para quem é gente, pessoa, ser humano, não para cavalos ou bois certamente.

Então, quando um Juiz se erguer contra essa mazela crônica cumprindo seu dever de ofício, e através de sua decisão colocar criminosos que estavam sendo tratados de forma criminosa por nossas autoridades e nosso silêncio cínico e conivente, o mínimo que podemos fazer em respeito a esse homem: é continuarmos calados se nossa voz for se erguer para criticá-lo.

Vale para nós. Vale para a mídia.

E quando recuperarmos a vergonha na cara, que perdemos faz décadas, que ergamos a voz sim!

Mas para cobrar de quem elegemos: Justiça Social!

Ao Juiz?

Aplausos!


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sábado, novembro 19, 2005


SEM CHANCE

Por Paulo da Vida Athos

A Vida é um milagre.

O tempo, os dias, as horas, são milagres que não se repetem, que não voltam, nisso que é um milagre mutante, em eterna evolução.

Ninguém pode ser feliz amanhã; muito menos ontem.

Essa é a essência maior do milagre da Vida: um movimento contínuo onde as primaveras jamais se encontram, assim como o ontem nunca encontrará o amanhã, razão pela qual determina que esse milagre só pode ser vivido no hoje, no já, no olhar que liga a paisagem à alma, ou a outra alma no olhar do outro que está te olhando.

Muitos não percebem e colocam sua felicidade no amanhã e ficam escravos da tristeza que espera um amanhã que jamais chegará. O amanhã quando chega, se torna hoje. O amanhã é sempre e apenas uma visão.

Outros mais colocam sua felicidade no ontem, que a cada minuto passante fica mais distante deles vez que o tempo não anda para trás. O ontem é sempre uma lembrança do já vivido.

Somos passageiros desse milagre. Embarcados na Vida contemplamos rostos e paisagens que passam pela janela de nossos olhos. Nem sempre as paisagens são belas...

Enquanto são gastos bilhões de dólares movimentando essa máquina impiedosa da corrida armamentista e nos projetos bélicos espaciais das grandes potências, a fome ceifa milhões de vidas ainda iniciantes. O que a guerra começa, a fome termina com maior precisão...

A morte de milhões de pessoas ao longo do século XX, de fome, apenas de fome, deveria ser suficiente para que parássemos para pensar. No entanto, nesse primeiro lustro do século XXI com o coração aos pedaços e a indignação bramindo de seus escombros, grito a todos os pulmões: eu os acuso!

Acuso a todos os detentores do poder! Começo pelas grandes potências, por aqueles que têm na guerra uma indústria e nela visam o lucro derivado dos genocídios como os ocorridos contra Coréia, Vietnã, Iraque, Irã, Afeganistão, antiga Iugoslávia, Palestina, países e etnias da áfrica e da ásia, para citar alguns.

Acuso a todos os senhores da guerra e aos senhores da corrupção!

Acuso aos nossos políticos corruptos, aos grupos de extermínio, e aos torturadores do Brasil e do mundo!

Sim, não se iludam! Existe uma guerra não declarada no Brasil, alimentada pela corrupção que vai dos salões dos palácios aos quilombos e guetos de nossas favelas e periferias de nossas grandes cidades.

Acuso nossa política de segurança e social por cada vítima de bala perdida, por cada criança perdida, seja por munição achada seja nos faróis das esquinas.

Não se faz operação de guerra entre vielas e barracos, ou casas de alvenaria, que são como folha de papel diante da munição usada por ambas as partes: por policiais e criminosos. O resultado é demente! Desastroso! Criminoso! Tão desumano e insano que me pergunto diante de cada criança que morre nessas operações:

- “Quem são os bandidos?!”

Acuso nossos governantes pela ausência de uma política de segurança eficaz. Dispensamos, senhores, a sempre festejada política de assassinatos que nos apresentam como solução! Basta de cadáveres!

Queremos que nossas crianças sejam assistidas, que tenham comida, casa, escola e hospital! Queremos passear nas noites de verão pela praia ou por nossas ruas, a qualquer hora do dia ou da noite, sem medo de assaltantes ou de camburões. Ambos nos assustam! Ambos geram insegurança em razão da impunidade, desmandos e corrupção em que vivemos. Temos tanto medo de cruzar com um “bonde” de bandidos quanto com uma “blitz” policial em nossas madrugadas.

Eu os acuso por terem matado nosso ontem e roubado o nosso amanhã e, não satisfeitos, dilacerarem a alegria que deveria existir em nosso hoje!

Mas apenas acuso! Não posso julgá-los e sabem disso.

Mas certamente a Vida e a História os julgarão!

Absolvição para vocês? A resposta é a mesma que deram a milhões de vidas que se perderam nesse genocídio de guerra e fome, fruto da ganância ou da corrupção que vocês sempre alimentaram:

Sem chance!


Paulo da Vida Athos

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segunda-feira, novembro 14, 2005


NÃO QUERO ESSE AMANHÃ!



por Paulo da Vida Athos.


Todos querem o amanhã, almejam o amanhã, sonham com o amanhã.

Na verdade, a maioria o anseia mais por temor à morte que por qualquer coisa razoavelmente aceitável ou tateável, nessa querência que beira a insanidade, que se debruça na insensatez ou no delírio dos alienados.

Acumulam dinheiro, compram terras e casa, mais terras e casas que poderão ter como chão onde poderão caminhar ou tetos onde se abrigarão. Mas compram assim mesmo em nome da segurança, do amanhã.

Fazem seguros vultuosos, adquirem planos para turbinar a bufunfa que embolsarão quando velhos, aplicam na bolsa, na poupança, do diabo a quatro, todos pensando no amanhã. Todos que podem, claro.

Enquanto isso...

No jornal de hoje vemos a europa em pé de guerra; os Estados Unidos, o oriente médio, a ásia e parte da áfrica, com os pés na guerra.

No mundo, hoje, temos quase uma centena e meia de guerras declaradas.

Paris, de cidade luz, tornou-se, de um momento para o outro: a cidade chamas. A Bélgica, a Holanda (e em breve a Alemanha), seguem o mesmo caminho. Não demora a europa inteira viverá esse mesmo estertor da paz.

A Comunidade européia mandou dinheiro para Paris. Não para minimizar o impacto das diferenças sócias e culturais. Mas para o enfrentamento.

O povo estadudinense em breve terá sua europa. Katrina não plantou a semente, não o culpem. Apenas colocou a chaga exposta ao céu. Breve a semente que agora pegou sol: vai germinar...

O mundo caminha para isso, inapelavelmente. Não é um exercício de futurologia. Não tenho queda para profeta. Apenas tenho olhos de ver.

Convulsões civis, por conta da rota de colisão entre os excluídos e os donos das riquezas (ou aquilo que os representa), fazem o mundo estremecer de ódio e chamas.

São milhões de famintos, de miseráveis, de excluídos, ainda desunidos. Como sabemos, a união faz a força.

No Brasil, temos os nossos. As nossas mazelas. O nosso cinismo social.

Quando as gangues saíram às ruas e tomaram Paris e o interior da França incendiando tudo, destruindo, numa insurreição que o governo francês rotulou como “atos de banditismo”, não pensaram no que não fizeram historicamente por seus miseráveis.

Tal qual os Estados Unidos e o Brasil...

As gangues americanas têm armas, muitas, não são como as européias.

No Brasil, idem. Em praticamente todas as grandes capitais, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

O Rio de Janeiro ainda tem um agravante: as gangues estão bem no coração da cidade maravilhosa, em nossos guetos, em nossas favelas, onde já dominam tudo e todos que lá residem: graças a ausência do Estado e a nossa conivente e cruel omissão.

Aplaudimos cinicamente quando forças de segurança invadem essas favelas e montam uma cena cinematográfica para assassinar um mero traficante, como foi o caso do Erismar Rodrigues Moreira, o Bem-Te-Vi, que morreu na madrugada de um sábado, em 29 de outubro de 2005, numa troca de tiros com policiais que participavam da Operação Tróia, próximo ao valão do Largo do Boiadeiro, na Rocinha. O bandido tinha assumido o controle do tráfico da favela desde a morte do traficante Luciano Barbosa da Silva, o Lulu, em abril de 2004, também em confronto com a polícia.

Os policiais vigiaram de perto o bandido. Chegaram a alugar um apartamento no morro. Finalmente conseguiram cercá-lo na parte baixa da Rocinha. Houve confronto e Bem-Te-Vi foi atingido na cabeça e no tórax. O traficante já chegou morto ao Hospital Souza Aguiar.

Fizeram grandes coisa? Não! Não fizeram nada! Apenas gastaram mais dinheiro para matar mais um dos muitos bem-te-vis que temos por aqui... Antes dele muitos houveram; muitos haverão depois. Desde a morte de “Zé do Queijo” por “Denis da Rocinha”, mais de vinte “donos” já passaram pelo posto. Agora mesmo já tem novo “dono” a Rocinha.

O que me intriga é: porquê foram lá para matar, chegando a alugar um apartamento para tal? Vai que vire moda. Temos centenas de favelas, centenas de “donos” de favelas, e milhares de substitutos. Resumo da ópera: nada do que fizeram é novidade. Mataram mais um. Novidade, apenas o método... Se forem usar com todos, teremos que pedir um empréstimo ao FMI, a fundo perdido (coisa que já deveriam ter feito para consertar os helicópteros da polícia civil e militar danificados pela munição do tráfico de entorpecentes).

Não fizeram nada!

O tráfico na Rocinha, continua: livre, leve e solto. Assim como nossa insegurança, a ausência do Estado nesses guetos e o cinismo social.

A polícia fingiu que fez algo extraordinário... e nós fingimos que acreditamos.

Por enquanto o estado está subindo para matar, não para acabar com as gangues que lá existem. Se crianças morrem nessas investidas, a policia diz que foi pela munição do bandido e o bandido diz que bandido é o policial que atirou na criança. Por cegueira ou imbecilidade crônica, nós nos omitimos!

“-Ora, não está acontecendo na zona sul!”

Ainda não, senhores. Ainda não...

Ainda não copiamos Paris!

Amanhã quando nossas gangues descerem, então cobraremos urgência. Mas, creiam: será tarde demais!

Cinicamente todos sabemos que é esse o amanhã que nos espera na esquina do tempo! Nada cobramos hoje, imediatamente! Não falo de mais tiros, de mais balas perdidas, de mais cadáveres!

Falo de Justiça Social!

Não, senhores: não almejo esse amanhã que estão construindo.

Não quero esse amanhã para mim!


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It was not an act of war in Lebanon

It was not an act of war in Lebanon. It was not an act of war, it was a terrorist act, a terrorist action that Israel carried out against Le...