quarta-feira, agosto 16, 2023

Oração para Omulu /Obaluaê

 Hoje,16 de agosto, é Dia de Obaluaê/Omulu.


Oração para Omulu e


Obaluaê


 

Pai, me curvo ao Seu amor, à Sua proteção. Ao longo de minha jornada, Pai, quantas vezes, não fosse esse amor imenso e profundo que me dedica, eu não estaria aqui.


E nessas vezes pude ver a beleza de seu rosto, a luz de seu olhar, a força de Seu amor por mim, ao me sentir abrigado sob o manto de palha da Costa que cobre Seu rosto amado.


Quantas vezes arrancou-me das mãos de Ikú, contrariando Olodumare, por achar que minha missão ainda não estava cumprida...


Foram muitas, e, sei, sempre por amor.


E hoje, em seu dia e dia em que Àiyé estremeceu com meu vagido, há setenta e três anos, quero mais uma vez agradecer toda proteção e todo o Amor que nunca me deixou faltar ao longo dessa minha também já longa caminhada nessa dimensão.


Inimigos, não tenho, graças à Sua divina proteção.


Energias negativas, físicas, mentais ou espirituais, nas poucas vezes me tocavam, num átimo de segundo você intervinha, me arrebatava, e me ocultava entre Suas sagradas palhas, para depois me devolver a Àiyé: mais forte, prudente e preparado.


Seu amor, Pai, me ensinou a amar, entender a dor e a alegria, a caminhar na luz sem temer as trevas, a dar ao outro apenas o que eu gostaria de receber.


Pai, nesse seu Dia, só posso dizer: obrigado!


Obrigado por ter me guiado até aqui, pois sem seu Amor e sua Sabedoria, há muito já estaria em Orum.


Obrigado por tanto Amor!


Atotô, Obaluaê! Atotô, meu Pai!


 

David de Oxóssi 

Paulo R. de A. David

(Paulo da Vida Athos)


 


Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2020.

segunda-feira, julho 31, 2023

Viagem

 Viagem


Precisava disso, ver isso, ouvir isso, viver esse lugar. A vida é como esse vídeo, essa música, esse poema, essas imagens, nesse compasso mesmo de viagem em direção sempre do amanhã que nunca chega. 

O amanhã que chega é uma ilusão que vivemos no hoje, também outra ilusão, que em segundos é ontem, num tempo sem chegança que se arrima apenas em nossos sonhos e delírios, ou na realidade dos loucos.

É viagem de ida, apenas de ida, em que vamos deixando pedacinhos de ser e levando de outros pedacinhos que comporão o que somos, porque em verdade, e única, é que somos pedacinhos de ser até nos desintegrarmos e nos transformarmos em algo ou alguém que nunca existiu, para continuar a viagem, numa viagem sem fim.

Paulo da Vida Athos.
Rio, 31 de julho de 2023.

sexta-feira, maio 26, 2023

Convocação

Convocação


Que a Vida urda seus dias e os borde com sonhos.  Curta muito, viva intensamente,  sorria, faz bem sorrir, mas se quiser chorar, chore, também faz bem, mas não esqueça de olhar o céu, o sol e as montanhas, as praias e a beleza das chuvas, de ouvir o canto dos pardais - hoje tão raros nas ruas de meu bairro - e o alarido das crianças quando em bando comemoram a saída das escolas, principalmente as dos jardins de infância (são as que mais próximas chegam dos pardais). Encante-se com as auroras, vibre com os por-do-sol, com o canto das cigarras e o desabrochar de qualquer flor. Liberte-se das mágoas,  não se culpe pois você não é culpada ou culpado por ter nascido, vivido, e vir com o destino traçado.  Lance fora tudo que não precisar em seu interior, viaje leve, jogue até a mochila fota. Viaje de verdade, se puder, mas se não puder, sonhe,  sonhar sempre é possível e mais barato, além de ser muitas vezes um barato.  Cavalgue o vento,  conheça países desconhecidos ou imaginários, dance as danças que sempre achou impossível: seja um tango, o trepak ou na corda bomba feito o bêbado e o equilibrista do Blanc e João Bosco, mas dance!, faça como Zorba, dance mesmo sobre dores, sobre desafios ou tragédias, não importa! Afinal, como disse o tal grego: "é preciso um pouco de loucura para o homem ser feliz."   

E ame!  Amar  é sempre a viajem mais bonita...


Paulo da Vida Athos

Rio de Janeiro, um dia qualquer de 2023.

quinta-feira, abril 06, 2023

Memória e verdade, inegociáveis


Memória e Verdade, inegociáveis.


Uma a uma vão se apagando as lembranças,

como se habitasse a vida o esquecimento,

e da terra evaporasse o sangue,

e do éter os gritos dos nossos mortos.


Porque esse silêncio? 

Porquê esse descaso?

Por onde andará minha criança?


Eu quero saber!  

Preciso saber para viver,

pois não saber é viver a morte.


Não aceitarei o desatino dessa incerteza,

pelo menos, não calado!

Se o destino é parado, 

que espere, estou chegando.


Que se calem as gentes,

o Estado e os quartéis;

que parem as rotativas,

ou que continuem triturando

a verdade e a história,

semeando mentiras.


Que se cale a consciência

dos carrascos, 

que continue calada a legião dos omissos;

que se fartem,

com o silenciar dos ais

que habitam os porões;

que esqueçam o balé 

de meninos com dragões;

que se satisfaçam

com o silêncio dos canhões!


Mas, não eu! Não calarei!


Não darei aos algozes

o prazer da rendição,

que mais que isso

é conivência,

é silêncio de covarde,

e, como ele,

deve ficar insepulto,

vísceras expostas

sob a luz da verdade!


Não terão  silêncios!

De mim não terão silêncios!

Não tenho silêncios!


Meus silêncios são habitados

por gritos de dor e clamor de vingança.


Não quero justiça!

Nunca teremos justiça.

Quero vingança!


Vingança é a justiça dos que tombam em combate.


O resto é missa e não creio em deus,

nem em padres, pastores ou diabos.


Creio na liberdade

e por ela tombei

e vi tombarem,

por ela matei

e vi torturarem.


Creio no chão em que piso,

na terra que produz, 

e na exploração humana.


Creio no que vi, vejo e sinto,

e sinto que não posso parar,

que preciso gritar.


Por cada um que perdeu a voz,

por cada um que perdeu a vida,

por cada ser torturado,

por cada pessoa desaparecida,

e por cada mulher e cada homem,

que ficaram órfãos de seus filhos.


Não calarei e cavalgarei

meu grito de morte,

meu canto de guerra, 

e, com meu santo guerreiro,

buscarei...

no fundo do mar,

debaixo das pedras,

nos buracos das selvas,

sob o véu da omissão,

nos fornos das fábricas,

debaixo das pontes,

no fundo dos lagos,

nos leitos dos rios,

nas lembranças perdidas,

nos arquivos dos quartéis:

até encontrar o último desaparecido,

dos campos ou das cidades.


Enquanto não for encontrado,

não haverá justiça com o passado.


Muito menos, memória e verdade!


Por Paulo da Vida Athos

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