Ontem meus sonhos peregrinos
circulavam em montanhas desconhecidas
de distantes galáxias.
Felicidade era, antes,
o resumo do sonhar, que do sentir,
e eu sentia apenas os efeitos
da própria sensibilidade criadora
que existe na alma do poeta.
Musa, não havia.
Auto inspiradora e egoísta,
a poesia nascia de si para si,
tal como um deus egoísta
que nada mais desejasse
que seu próprio existir.
Andei assim,
durante muitos séculos.
Em almas hospitaleiras,
ou hostis,
deixei um pouco de meu ser
e conduzi comigo,
também,
o lastro de cada uma delas.
Fui nuvem e carvalho,
fui rio indômito e impetuoso,
fui rochedo agreste e inacessível.
Escrevi meu nome
em muitos céus,
em troncos de árvores
e em alguns corações.
Hoje,
ainda vejo algumas letras
informes
nas nuvens que passam,
em seres que passam,
no tempo que sobra.
Vejo alguns troncos marcados.
Mas os rostos e os corações,
não mais existem.
Foram como o perfume que se perde na brisa.
Deslocaram-se por outras estradas
de outros mundos
por onde não mais desejo passar!
Permiti que levassem os sonhos,
para poder cirandar com as palavras.
Egoístas decisões de deus poeta...
Maio/1998