sábado, março 22, 2008

CRIANÇAS SÃO SEMPRE VÍTIMAS: MESMO AS CRIMINOSAS



por Paulo da Vida Athos.


“Jesus, porém, chamando-as para si, disse: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais é o reino de Deus.” (Lc.18,16)

Na Função Litúrgica da Sexta-feira da Paixão, na Catedral Metropolitana, ontem à tarde, sua eminência o arcebispo do Rio, cardeal Dom Eusébio Oscar Scheid, disse que ainda sejam protegidas pela legislação, as crianças que matam são assassinas. Assim se expressou sua eminência:

“- São assassinas e criminosas, ainda que a lei não as puna”.

Não satisfeito arrematou:

“- Não se pode ser fraterno desrespeitando a vida de quem quer que seja, muito menos de criança inocente”.

Imagino-o, rotundo, diante de uma fasta mesa, cercado por iguarias e vinhos de primeira, afinal sua eminência está acostumada ao fausto, e deliciando-se com sua própria imagem a deitar falação para a massa sobre o tema da campanha da fraternidade, que aborda segurança pública, assistindo-se no jornal das oito.

Que fraternidade prega sua eminência?

O que sua eminência esqueceu, é que no Brasil desde a colônia até o fim do império, no final do século XIX, as crianças excluídas do amor ou do abrigo eram nominadas como "expostos" e "enjeitados". Mas essa exclusão dava-se, como regra, com crianças recém-nascidas. Comumente as abandonavam em locais onde a exposição as fariam ser recolhidas por algum bom samaritano; mas, ordinariamente as deixavam em igrejas e conventos. Era mais comum fazerem assim, vez que acreditavam que Deus as recolheria e, com isso, aliviavam um pouco a consciência. Nasciam, assim, as "rodas dos expostos".

E, quantas mães encontraram nessas rodas a única salvação para o filho! Quantas mães através delas livraram seus filhos da escravidão!

O tempo veio e passou, e a República, que já nasce prostituta das entranhas do Império, começa a largar os filhos desse solo com mais profusão no chão de suas ruas. No século XX a Igreja de sua eminência aposentou as “rodas dos expostos”, pois afinal não era lampião e dispensava para seu fiofó aquela torcida. Aquilo era um problema do Estado, de ordem secular, e não ficava direito a Igreja empregar o dinheiro que vinha do povo em favor do povo. Não! Aquela grana era para a hóstia e para o fausto dos bispos e cardeais, de alguns padres mais chegados, e claro, para o amparo papal, para o rico Estado que não tem crianças abandonadas pelas ruas, ruas de chãos limpos e história nem tanto, chamado Vaticano. Um verdadeiro céu!

Mas, preciso trazer sua eminência para a terra, e já! Alías, só para começar cutucando a onça com vara curta, indago a sua eminência: antes de levantar a bandeira da defesa de embriões, por que não defender menores de rua? Antes de chamá-los assassinos e bandidos, porque a Igreja não os reconheceu e acolheu quando eram ainda apenas as vítimas? Dar uma de político em época de eleição é mole. Não me espantarei se sua eminência começar a pedir que se reduza a idade para a imputabilidade penal. Coisa de político beócio e de gente de má-fé.

“- A pobreza, a miséria, a gravidez na adolescência e a falta de planejamento familiar estão entre as principais causas do abandono das crianças e adolescentes no Brasil”, concluiu o então presidente do Fórum Permanente da Criança e do Adolescente, desembargador Liborni Siqueira do Tribunal de Justiça do Rio.

De fato, a miséria é a mãe do abandono e de todo o resto. Os excluídos são filhos dela. As crianças abandonadas que perambulam por nossas ruas, que não têm uma mesa como a de sua eminência, que cheiram cola e em alguns casos cometem crimes contra o patrimônio e até contra a vida, são filhos de nossa omissão e sua eminência parece não ter percebido.

Não culpo a Igreja nem sua eminência apenas: seria heresia! Culpo também a cada um de nós. Afinal, a classe média só se preocupa mesmo com isso quando a ABADI informa que em tal e qual área os imóveis tiveram desvalorização que chegou a 15% no valor do aluguel, e até 30% na venda, em razão desses seres miseráveis chamados moradores de rua.

Em entrevista para a revista VEJA, Mollie Orshansky, uma das maiores especialistas no assunto disse que: "- A pobreza, tal qual a beleza, está nos olhos de quem a vê". Para efeito estatístico, no entanto, os estudiosos chegaram a uma definição quase matemática sobre o que são miséria e pobreza. Conseguiram estabelecer duas grandes linhas. Uma delas é a linha de pobreza, abaixo da qual estão as pessoas cuja renda não é suficiente para cobrir os custos mínimos de manutenção da vida humana: alimentação, moradia, transporte e vestuário. Isso num cenário em que educação e saúde são fornecidas de graça pelo governo. Outra é a linha de miséria (ou de indigência), que determina quem não consegue ganhar o bastante para garantir aquela que é a mais básica das necessidades: a alimentação. No caso brasileiro, há 53 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza. Destas, 30 milhões vivem entre a linha de pobreza e acima da linha de miséria. Cerca de 23 milhões estariam na situação que se define como indigência ou miséria.

Vinte e três milhões de famintos!

Impossível fechar os olhos como a Igreja faz, como a sociedade faz, como os governantes e políticos fazem. Um dia, pagaremos por esse que é nosso pecado. O educador Vital Didonet disse que a criança é "o rascunho de um texto definitivo. Rascunho no qual se corrige, acrescenta, apaga, sobrepõe e que se aperfeiçoa até chegar à redação final. A criança é o ensaio do adulto. Vive um período que passará". Creio em suas palavras e temo o rascunho que estamos ajudando a fazer.

Melhor iria se sua eminência mantivesse a boca fechada. Se sua eminência não percebeu: no Brasil, todas as crianças são vítimas, mesmo as criminosas!


sexta-feira, março 21, 2008


SEXTA-FEIRA DA PAIXÃO: O DIA DA TRAIÇÃO


Tem dia para tudo: dia da Solidariedade, dia da Paz, dia disso, dia daquilo.

Por tudo que Jesus passou há mais ou menos dois mil anos, por todas as suas dores, coisa que o mundo ocidental bem sabe, esse dia bem poderia também ser o Dia da Traição, ou o Dia da Intolerância Religiosa. Vejam que faz tempo que o povo, volta e meia, trai coletivamente.

Ao trair, trocaram Barrabás por Jesus, lembram da história?

"-Quem quereis que vos solte, Barabás ou Jesus, que chamam de Messias ” (Mt. 27,11 ).

E assim foi e assim tem sido.

Traímos muitas vezes, até quando nos omitimos: a escravidão também foi uma forma de traição contra a humanidade, assim como o holocausto judeu, assim como o genocídio palestino ou nas investidas criminosas do exército estadudinense.

Sim, traímos muito. Parece que gostamos disso. Ou o nosso silêncio diante da perseguição de traficantes e falsos pastores contra os terreiros de umbanda e candomblé em algumas favelas do Rio de Janeiro não é uma traição?

Quando um de nós grita pedindo socorro por si ou por outros, e a gente sabe que é por uma causa boa, humana, e, mesmo assim, nos omitimos (até o não repassar uma mensagem - não falo de mensagem político-partidária, isso não!), não denunciando, é uma forma de traição contra o outro e contra a humanidade!

Nosso medo, nossa ambição e nossa omissão, registram no livro da covardia o nosso nome como signatários do Dia da Traição.

Não assinei e não vou assinar esse livro.

Nem dedicarei ou elegerei esse dia para mim ou para meu próximo ( e quem está mais próximo de mim do que eu?).

A todos que não compreenderam meu desabafo, mil perdões.

Aos que lutam pela vida como eu, meus amores!

Um beijo no coração de cada um.

Sexta-Feira da Paixão, em pleno março de um Rio de Janeiro.

Paulo da Vida Athos.

It was not an act of war in Lebanon

It was not an act of war in Lebanon. It was not an act of war, it was a terrorist act, a terrorist action that Israel carried out against Le...