sábado, março 31, 2007

A MÍDIA E O GOLPE DE 64


Ou, um grito de alerta.


Maria da Conceição Tavares, em artigo na Folha de S.Paulo citou “os célebres editoriais do Correio da Manhã e do Jornal do Brasil de 30 de março de 1964: - Chega! Basta! – eram apenas o registro do acordo final. Dias antes, Carlos Heitor Cony havia afirmado com todas as letras, no mesmo jornal, que antes do golpe de 64 todos os jornais do país, menos o carioca Última Hora, eram a favor do golpe.

É importante destacar este fato para reforçar a visão de que o golpe que implantou a ditadura não foi só militar. Ao contrário. Foi civil-militar. Ou seja, o pensamento hegemônico na época era a favor do golpe. Este pensamento foi construído com um intensíssimo trabalho de formação e propaganda política encabeçada pelo Instituto de Pesquisa e Estudos Sócio-econômicos (IPES). Este instituto foi o grande articulador e formador de opinião pública pró-ditadura. Produziu milhões de exemplares de livros, influenciava centenas de jornais, programas de rádio e TV. Produzia cartilhas, panfletos, jornais aos milhões e promovia milhares de conferências. Tudo para levantar o espantalho do “comunismo ateu” que estaria prestes a tomar conta do Brasil.

E por falar em mídia, o IPES, de 62 a 64, produziu dezenas de filmes com duração de 10 minutos no máximo cada um, para fazer projetar nas mais de 3000 salas do país. Estes filmetes, muito bem feitos, eram outra grande arma para condicionar milhões de cabeças sobre a necessidade do golpe.

E depois de tudo isso, hoje, vêm doutores de história dizer que o golpe foi um “contra-golpe”, foi um “golpe preventivo” para evitar que a esquerda desse seu golpe contra a sociedade.

Este golpe estava sendo programado nos quartéis, na Embaixada Americana, nas organizações empresariais, na maioria das igrejas com padres reacionários, nos aparelhões controlados pela burguesia, como o Sesi, o Sesc, o Senac, nas rádios e televisões e na imprensa.

Por isso, outra grande mentira, que o golpe veio como reação e prevenção contra um possível golpe de esquerda só serve para justificar o golpe. Para absolver a ditadura que este implementou. E serve para tranqüilizar consciências de arrependidos que precisam dizer que “tanto faz, tanto fez... era tudo igual. Direita e esquerda se igualavam”. (Por Vito Giannotti)




O GLOBO E TODA A DIREITA TENTAM SALVAR SUA PELE


Os anos passam e a memória se esmaece. Nesse embalo fica fácil embaralhar as cartas e falsificar a história. O Globo de 23 de março é um belo exemplo dessa manobra: “Disposição golpista da esquerda divide opiniões”. Taí o fato consumado. Para O Globo não há mais dúvidas. A disposição golpista é real, a ponto de se dividir opiniões.

Na intelectualidade carioca está ganhando corpo uma interpretação do golpe que é falsa e ideologicamente dirigida. Vejamos só o enunciado de um discurso que seria longo demais para esse boletim.

Primeiro: o golpe da direita já estava sendo preparado desde maio de 1954. Foi tentado em agosto antes e depois da morte de Vargas. Foi retomado antes da posse de Juscelino, em 1955, e na renúncia de Jânio Quadros, em 1961. Inicialmente foi articulado, com decisão total, a partir da fundação do IPES, em 1962. Ou seja, o golpe da direita não foi para evitar um fantasioso golpe da esquerda. A direita estava decididíssima a acabar com a democracia para, no discurso histérico da época, acabar com o perigo comunista.

Segundo: Quem hoje quer inventar que a esquerda estava preparando o golpe está mentindo descaradamente. O PCB, única força real de esquerda com inserção nacional, não preparava nenhuma revolução socialista desde 1948. Seu sonho era uma chamada revolução democrática-burguesa, liderada pela burguesia nacional. Não havia projeto nenhum de tomada de poder. Além do mais, o equilíbrio mundial implantado desde os acordos de Ialta não admitia esta hipótese.

Afinal não havia nenhuma ameaça de golpe pela esquerda. Havia uma mobilização popular parcial para exigir mudanças mínimas, como as reformas de base. E havia muitos discursos vazios, muitas “bravatas”, como se diz hoje, no campo da esquerda.

Terceiro: A distorção histórica de quem quer plantar a idéia que o golpe militar foi um contra-golpe, ou, como dizem, um “golpe preventivo” quer fazer esquecer que a esquerda que, dizem eles, iria dar este tal golpe, estava tão longe disto que quando o golpe militar veio, não reagiu. Que esquerda pronta para dar o golpe era esta, se quando a direita veio com seus tanques, não teve um só tiro. Esta esquerda, que os que hoje falam golpe preventivo, estaria pronta para implantar seu regime, não matou um só mosquito. Não deu um tiro de festim sequer. Cadê o perigo da esquerda que exigiu um “golpe preventivo?”

Para quem, como O Globo e a imensa maioria da mídia apoiou o golpe militar, a tentativa em curso, hoje, é se limpar dizendo que “somos todos iguais”. Ou a direita dava o golpe, ou a esquerda daria.

E para os que já foram de esquerda, e hoje estão arrependidos, esta teoria do golpe de direita para se prevenir de um golpe de esquerda, serve para justificar sua mudança de posição. Para poder dormir em paz na cama do neoliberalismo dominante. (Por Vito Giannotti)




GOLPE DE 64. O PROJETO DE NAÇÃO QUE PASSOU NA TV


Segundo informa Aydano André Motta, na edição de 28/03 de O Globo, a execução da estratégia de propaganda dos governos militares estava a cargo da Aerp (Assessoria Especial de Relações Públicas), órgão ligado à Presidência da República e criado especialmente para formular as peças publicitárias do regime. “A Aerp é obra do então coronel (hoje general da reserva) Octávio Costa, elogiada até hoje por publicitários consagrados. Quem tem mais de 35 não se esquece, por exemplo, do Sujismundo, estrela da campanha “Povo desenvolvido é povo limpo”. Ou do magistral jingle “Marcas do que se foi” (“Marcas do que se foi/ Sonhos que vamos ter/ Como todo dia nasce/ Novo em cada amanhecer”).

— A idéia de vender a noção de cidadania, melhorar a auto-estima da população, sem a chancela do governo, é moderníssima. Tem que se tirar o chapéu, porque foi a única coisa que os governos do golpe fizeram de realmente eficiente — diz Lula Vieira, presidente da V&S Comunicações, que trabalhou na produção de dez filmes. — Não eram como hoje, com chapa-branca da marca no fim. Transmitia-se uma idéia apenas.

No mesmo texto, o jornalista Aydano informa que o coronel Octavio Costa criou a Aerp após ganhar um espaço de dez minutos diários em rádios e TVs. “Somente entre 1970 e 1973 foram produzidos 191 filmetes com um minuto de duração cada e 205 comerciais de rádio, o grande meio de comunicação da época.”

Portanto, nessa data, tenho para o povo brasileiro apenas uma frase de alerta:

-“Cuidado! Muito cuidado com a mídia!


Fonte

quarta-feira, março 28, 2007

MUNIÇÃO DA OMISSÃO









SOBE PARA 32 O NÚMERO DE VÍTIMAS DE BALAS PERDIDAS NO RIO




Dados se referem apenas ao mês de março de 2007.


Em apenas 27 dias, 32 pessoas foram atingidas por balas perdidas em março, o que significa mais de uma vítima por dia.

Na noite de terça-feira (27) mais duas pessoas foram feridas no Rio.

Moradores da favela do Fumacê estavam na rua, em Realengo, na Zona Oeste, quando foram baleados durante um confronto entre traficantes.

Segundo policiais do 14ª BPM, homens do Grupamento de Ações Táticas (GAT) ocuparam a favela. Os feridos seria Ilton Marques da Silva, de 60 anos, que foi atingido na perna e teve fratura na tíbia, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde. Ele estaria em um ponto de ônibus próximo à favela e está internado no hospital Albert Schweitzer e deve passar por cirurgia. Seu quadro é estável.

O outro ferido seria Bruno Reis, de 20 anos e, de acordo com a secretaria, foi atingido de raspão na perna, quando passava em uma rua próxima. Reis foi medicado e liberado. No local, foram encontradas quatro granadas. O Esquadrão Anti-Bombas foi chamado.

BALA QUE FERIU MULHER DE 80 ANOS PARTIU DE PRÉDIO DE CLASSE MÉDIA

A bala que feriu uma mulher de 80 anos, que está internada numa clínica de Botafogo, na Zona Sul do Rio, partiu de um prédio de classe média, segundo o titular da 10ª. DP (Botafogo), delegado Eduardo Joaquim Baptista. Identificada apenas como Dona Elza, a pedido da família, a vítima passa bem e não está em estado terminal, conforme disseram funcionários da clínica pela manhã. Ela teve um ferimento leve no braço e já recebeu um curativo.

PROFESSOR ATINGIDO POR BALA É SETIMA VÍTIMA EM MARÇO

O professor de educação física Vladimir Novaes de Araújo, de 28 anos, foi enterrado, nesta segunda-feira (26), no Cemitério de Inhaúma, no subúrbio do Rio. Vladimir é a sétima vítima fatal de bala perdida no Rio de Janeiro no mês de março.

Ele voltava para casa em uma kombi quando foi atingido por uma bala ao passar pela Avenida dos Democráticos, na altura de Manguinhos, no subúrbio.

MARÇO: 30 FERIDOS POR BALAS PERDIDAS E 7 MORTOS

Até o dia 25 de março de 2007, 30 pessoas já foram vítimas de balas perdidas.

Dessas, sete morreram. Segundo levantamento feito pelo Fantástico, em média, uma pessoa morre atingida por uma bala perdida no Rio a cada dois dias. Os números deste mês de março estão acima da média do ano de 2006.

Na tarde de domingo (11), traficantes da favela do Sapinho, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, tentaram roubar uma moto em uma das principais avenidas da cidade. O motoqueiro acelerou para tentar fugir e os assaltantes atiraram. O rapaz foi baleado e os tiros acertaram ainda duas pessoas na rua e três dentro de um ônibus. Entre elas, havia uma criança. Um dos passageiros, um jovem de 27 anos, morreu.

No sábado à noite (10), o mototáxi Jackson Vieira da Silva, de 25 anos, morreu baleado no conjunto de favelas do Alemão em confronto da polícia com traficantes. Ele levava na garupa Adalberto de Moraes Apolinário, de 19 anos, que foi atingido no tórax. Pouco tempo depois, no mesmo lugar, um tiroteio entre policiais e bandidos, fez mais uma vítima inocente. Roni de Brito Teixeira, de 39 anos, atingido por uma bala perdida quando descia do ônibus, foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, no subúrbio.

Um homem e uma mulher foram baleados em um ponto de ônibus na Avenida Democráticos, próximo à saída 7 da Linha Amarela, no subúrbio do Rio, na noite desta segunda-feira (12). De acordo com a polícia, Ana Maria Rios Cavalheiro Furtado de Mendonça e Sérgio Henrique Oliveira Souza, ambos de 44 anos, foram atingidos após dois automóveis passarem em alta velocidade atirando um contra o outro.

Duas mulheres foram baleadas na manhã desta segunda-feira (12) na favela Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Segundo a polícia, Aparecida Gonçalves de Oliveira, de 32 anos, e Cristiane Arcoverde Barbosa, de 19, disseram que foram atingidas acidentalmente quando traficantes limpavam suas armas.

A menina Alana Ezequiel, de 13 anos, foi baleada e morreu durante uma troca de tiros entre bandidos e polícia na segunda-feira (5) no Morro dos Macacos, em Vila Isabel.

Quatro inocentes foram vítimas de bala perdida em operação da polícia no conjunto de favelas do Alemão na terça-feira (6). Os feridos estavam na rua quando foram atingidos por balas ou estilhaços. Uma das feridas é a professora de 40 anos, Matilde Ferreira. Ela foi levada para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, ferida na perna. Cléber José da Silva Martins, de 55 anos, que passava de moto pelo local durante o confronto entre traficantes e policiais, foi atingido na coxa. O gari Eduardo Miranda, de 36 anos, levou um tiro de raspão na coxa. O vendedor Ricardo Érico foi ferido por uma bala perdida na cabeça. Mesmo com o projétil na cabeça, ele não aparentou seqüelas.

Vanessa Calixto dos Santos, de 24 anos, atingida por uma bala perdida na manhã de sexta-feira (9), na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, morreu na manhão do domingo (11). Ela foi vítima de um confronto entre policiais militares e traficantes.

Uma adolescente de 16 anos foi ferida no pé esquerdo por um tiro durante confronto entre traficantes de grupos rivais, na favela do Fumacê, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, no início da noite da segunda-feira (12). De acordo com policiais do batalhão de Bangu, Bruna Priscila Lima dos Reis, de 16 anos, foi baleada em uma rua próxima a um dos acessos à favela.

Pelo menos cinco jovens ficaram feridos e um morreu em ataque de traficantes ao Colégio Estadual Abraão Jabour, em Senador Camará, Zona Oeste do Rio, na noite de segunda-feira (12). Thiago de Oliveira Paulino morreu.

Uma pessoa morreu e duas ficaram feridas durante em ataque de criminosos no Rio de Janeiro. O crime aconteceu na noite de quinta-feira (15), no Rio Comprido, na Zona Norte do Rio. De acordo com a polícia, Denis Bezerra, de 20 anos, Alex Cunha Marinho, de 21, e um outro rapaz foram baleados na Rua Joaquim Pizzarro.

Sem contar os dez policiais assassinados em somente em março desse ano, junto com outros inocentes em razão de uma política de segurança sem inteligência e inadequada.

Essa é a Cidade Maravilhosa.

Com um governo maravilhosamente ineficaz.

Com um povo maravilhosamente omisso.

É muito cinismo da maioria, querer falar em redução da idade penal ou em pena de morte, coisa que por aqui tem para todos.

Inclusive e principalmente para os que são inocentes.

Você pode até não repassar essa mensagem. Mas vai dormir com sua culpa até ser tarde demais...

Paulo da Vida Athos.


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